Por que a cintura aumenta a partir dos 45 anos? Entenda a ciência por trás da gordura abdominal na menopausa.
Você já se perguntou por que, mesmo mantendo uma alimentação equilibrada e uma rotina diária de exercícios, a cintura aumenta após os 45 anos? O que incomoda muitas mulheres que chegam ao climatério agora tem explicação científica.
Uma pesquisa recente publicada na renomada revista Science trouxe uma nova perspectiva para essa questão. Os cientistas descobriram que, a partir dos 45 anos, tanto em homens quanto em mulheres, o corpo começa a produzir um novo tipo de célula-tronco. Essa célula tem uma capacidade peculiar: ela fabrica gordura abdominal, mesmo que o peso na balança não se altere na mesma proporção.
Sim, você leu certo! É como se seu corpo desenvolvesse uma “fábrica” de gordura especificamente para a região da barriga, independentemente de você ingerindo mais calorias.
Essa descoberta é um divisor de águas, pois ajuda a entender que o aumento da cintura nessa fase da vida não é apenas uma questão de “comer demais” ou “se exercitar de menos”.
Depois dos 45 anos, há um componente biológico, uma mudança celular intrínseca que contribui significativamente para essa alteração na distribuição da gordura e na composição corporal.
Por que a barriga aumenta na menopausa: Qual a influência hormonal no acúmulo de gordura?
Essa nova descoberta se soma a outra já conhecida das mulheres no climatério: a influência poderosa dos hormônios na concentração de gordura abdominal.
O período do climatério e a confirmação da menopausa são marcados por uma queda significativa nos níveis de estrogênio. Esse hormônio desempenha um papel crucial na distribuição da gordura corporal.
Antes da menopausa, o estrogênio tende a favorecer o acúmulo de gordura nas coxas e quadris (formato de pera). Com a diminuição na produção desse hormônio, a gordura passa a ser mais depositada na região abdominal (formato de maçã).
Essa mudança não é apenas estética. É também uma questão de saúde.
O acúmulo de gordura visceral (aquela que se localiza ao redor dos órgãos internos) é um fator de risco importante para diversas condições de saúde, como resistência à insulina, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares (infarto, AVC) e até mesmo alguns tipos de câncer.
A dificuldade de perder peso após os 40 anos, mesmo com uma dieta equilibrada e exercícios regulares, é uma queixa comum entre as pacientes. O bom é que a ciência trouxe mais uma perspectiva com a descoberta das células-tronco produtoras de gordura abdominal.
Assim, junto com tudo aquilo que já sabemos sobre a alteração hormonal, fica mais fácil entender por que o esforço para evitar mudanças corporais precisa ser redobrado. Não é falta de disciplina, mas sim um desafio fisiológico que exige estratégias mais refinadas.
Como manter o peso ideal e a saúde plena durante a fase da menopausa?
Diante desse cenário que une menos hormônios e novas células produtoras de gordura, é essencial ajustar os hábitos de forma inteligente. Adotar algumas estratégias específicas para essa fase da vida é uma excelente opção para manter o peso, as medidas e a saúde em dia.
- Reposição hormonal (com orientação médica, sempre!)
A reposição hormonal é a principal aliada das mulheres no climatério e n menopausa. Ao repor os hormônios que deixaram de ser produzidos naturalmente é possível não só aliviar os sintomas como ondas de calor, insônia e outras dezenas de incômodos, mas também otimizar o metabolismo e ajustar a distribuição de gordura.
É óbvio que a indicação do tratamento deve ser feita por um especialista em climatério, que vai avaliar e orientar cada paciente de forma personalizada.
- Nutrição estratégica
Mais do que “dietas radicais”, precisamos de uma abordagem nutricional sustentável e que considere as particularidades dessa fase. Focar em alimentos integrais, ricos em fibras, proteínas magras e gorduras saudáveis é essencial.
É hora também de reduzir o consumo de açúcar e de carboidratos simples para controlar os níveis de insulina e evitar o acúmulo de gordura abdominal. Bebidas alcóolicas devem ser exclusividade de ocasiões muito, muito especiais e nem preciso dizer que fumar nunca foi uma boa ideia – e para quem tem mais de 40, é “proibido”.
Nessa fase 40+, contar com acompanhamento de um nutricionista pode ser um diferencial.
- Atividade física
Exercícios são indispensáveis para todo mundo, a vida toda. Só que no climatério, não dá mais para escolher apenas aquilo que gosta. É necessário incorporar à rotina os treinos de força (musculação, pilates). São eles que preservam a massa muscular.
O ideal é intercalar a musculação com exercícios aeróbicos (caminhada rápida, natação, ciclismo). Essa é a dupla perfeita para manter a saúde cardiovascular. - Gerenciamento do estresse e qualidade do sono
O estresse crônico eleva o cortisol, um hormônio que favorece o acúmulo de gordura localizada. Isso ocorre porque níveis elevados de cortisol podem aumentar o apetite e promover o armazenamento de gordura, especialmente na região abdominal, onde as células de gordura são mais sensíveis ao hormônio.
Junto com o controle do estresse é fundamental cuidar do sono. Dormir bem passa a ser regra no climatério, porque a privação de sono também afeta hormônios que regulam o apetite e o metabolismo.
Exames essenciais para se fazer na fase da menopausa
Para monitorar a saúde e identificar precocemente qualquer alteração importante é fundamental ir além do que a balança indica. O ideal é acompanhar alguns indicadores por meio de exames laboratoriais específicos.
• Glicemia de jejum e hemoglobina glicada (HbA1c): indicadores cruciais para monitorar os níveis de açúcar no sangue e o risco de diabetes.
• Insulina em jejum: avalia como seu corpo produz e utiliza o hormônio, ajudando a identificar a resistência à insulina.
• Perfil lipídico completo: colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos. Fundamental para avaliar a saúde cardiovascular, que se torna mais vulnerável com o aumento da gordura abdominal.
• Hormônios tireoidianos (TSH, T4 livre): problemas na tireoide podem impactar o metabolismo e o peso.
• Hormônios sexuais (FSH, LH, estradiol): para monitorar o status hormonal e guiar decisões sobre a reposição.
• Vitamina D: níveis adequados são importantes para o metabolismo e a saúde óssea.
• Uricemia (ácido úrico): níveis elevados podem estar associados à síndrome metabólica.
• Proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR-us): um marcador de inflamação no corpo, em geral ligada a doenças cardiovasculares e resistência à insulina.
É possível envelhecer com saúde e manter a cintura
A ciência já mostrou que o aumento da cintura a partir dos 45 anos não é apenas resultado de maus hábitos. Essa transformação é um fenômeno complexo, influenciado por fatores biológicos, hormonais e também celulares.
Mas a ciência também nos mostrou como manejar essas alterações. O desafio, portanto, é encarar essa fase com consciência, informação, apoio profissional e estratégias personalizadas.
O que precisa estar claro para todas nós, que chegamos ao climatério, é que esse assunto não se trata de vaidade. Conhecer nosso corpo e identificar as mudanças tem tudo a ver com bem-estar, saúde e qualidade de vida.
Lembre-se: você é a sua prioridade. Por isso, não hesite em buscar acompanhamento médico especializado.
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005