Você faz parte do grupo de pessoas que acha um desperdício dormir? Com tanta coisa a ser feita e vivida, planos a serem realizados, trabalho e afazeres diários, o sono pode soar como um complicador para a produtividade. Muita gente pensa assim, mas o que a maioria não sabe é que as noites mal dormidas são um risco à saúde!
A insônia está entre as principais queixas da mulher no climatério e quem sofre com ela sabe exatamente os efeitos da privação do sono na disposição, concentração, memória, humor e qualidade de vida.
Segundo os dados mais recentes do Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal do Climatério, a piora da qualidade do sono é uma queixa de 39% a 47% das mulheres na perimenopausa.
Durante o climatério, as mulheres com sintomas vasomotores (fogachos) são mais vulneráveis aos distúrbios do sono. Na pós-menopausa, os distúrbios do sono podem piorar, afetando até 60% das pacientes. Em 26% dos casos, o problema é tão grave que afeta o funcionamento diurno da mulher.
O sono insatisfatório atrapalha a cognição, aumenta o risco de depressão, de doenças cardiovasculares e de distúrbios cardiometabólicos. Diagnosticar, avaliar e tratar corretamente esse problema é crucial para garantir o bem-estar físico e mental.
Principais distúrbios do sono no climatério
- Insônia: dificuldade para adormecer, para manter o sono ou despertar cedo demais, com sensação de sono não reparador.
- Apneia Obstrutiva do Sono (AOS): paradas respiratórias durante o sono, com ronco alto e sonolência diurna excessiva.
- Movimentos Periódicos das Pernas (MPP) ou Síndrome das Pernas Inquietas (SPI): movimentos involuntários das pernas durante o sono, que podem causar desconforto e prejudicar o repouso.
- Despertar Precoce: despertar frequente durante a noite com dificuldade para voltar a dormir.
- Sonolência Diurna Excessiva (SDE): sonolência intensa durante o dia, mesmo após uma noite de sono aparentemente normal.
Fatores de risco para a insônia
- Idade: o risco de distúrbios do sono aumenta com a idade, especialmente após a menopausa.
- Ondas de calor: sintomas vasomotores frequentes no climatério, como o fogacho e o suor noturno, podem perturbar o sono.
- Alterações hormonais: a queda dos níveis de estrogênio e progesterona afeta a qualidade do sono.
- Fatores psicológicos: ansiedade, depressão e estresse são agravantes para a insônia.
- Doenças preexistentes e histórico familiar: ter familiares com distúrbios do sono aumenta o risco de desenvolvê-los.
- Consumo de medicamentos: alguns medicamentos podem interferir na qualidade do sono.
- Hábitos de vida: tabagismo, consumo de álcool e de cafeína e uso excessivo de telas antes de dormir podem agravar os distúrbios de sono.
Como fazer o diagnóstico?
O diagnóstico de distúrbios do sono no climatério geralmente se baseia em anamnese – informações sobre sintomas, histórico médico, hábitos de vida e fatores de risco.
Dependendo do caso e da gravidade, o médico pode solicitar exames como a polissonografia, que monitora o sono por meio de atividade cerebral, respiratória, cardíaca e muscular.
Tratamentos para a insônia
Sabemos que o climatério é algo muito “pessoal” e nem todas as mulheres têm os mesmos sintomas. Por isso, qualquer queixa – inclusive a insônia – precisa ser tratada de forma individualizada.
Além da reposição hormonal, outras medidas são bem importantes. Modificações simples no estilo de vida são o primeiro passo para um impacto significativo na qualidade do sono.
É importante estabelecer um horário regular para se deitar. Dormir e acordar na mesma hora todos os dias, inclusive nos fins de semana, ajuda a regular o ritmo circadiano do corpo.
Outra recomendação é criar um ambiente propício. O quarto deve ser escuro, silencioso, arejado e confortável. Substâncias como cafeína e álcool à noite interferem na qualidade do sono, assim como refeições pesadas antes de dormir.
Uma noite reparadora tem relação direta com o gerenciamento do estresse. Use técnicas de relaxamento como meditação, yoga ou respiração profunda. Outro aliado é o exercício físico. Atividades realizadas regularmente melhoram a qualidade do sono, mas evite fazê-las perto da hora de dormir.
Outras estratégias para vencer a insônia
- Reposição hormonal – o estrogênio é o principal hormônio feminino e quando sua produção cessa surgem inúmeros sintomas físicos e emocionais. O uso de hormônios com orientação médica ajuda no controle da insônia.
- Terapia Cognitivo-Comportamental – a TCC é uma abordagem psicológica que auxilia na identificação e na modificação de pensamentos e comportamentos desencadeadores dos distúrbios do sono.
- Medicação – em alguns casos, suplementos e medicamentos podem ser prescritos para induzir o sono e evitar despertares durante a noite. Mas lembre-se: não tome nada sem orientação médica.
- Abordagens complementares – acupuntura, massagem terapêutica ou aromaterapia são alguns recursos auxiliares na busca pela “noite perfeita”.
- Apoio emocional – o climatério é algo personalizado, mas não solitário. Todos que convivem com as mulheres em pré ou pós-menopausa são impactados de alguma forma. O apoio de familiares e amigos é fundamental.
Não durma no ponto!
Essa expressão popular tem tudo a ver com o tema desse post. Se você não quer ser “passada para trás” por sua própria negligência, reaja. Chegar ao climatério é uma dádiva, um sinal de que estamos vivas. E esse já é um bom motivo para se cuidar melhor.
Os distúrbios do sono no climatério – assim como todos os outros sintomas dessa fase – têm tratamento e os resultados são muito melhores quando você tem a seu lado um médico experiente no assunto.
As palavras-chave nessa fase são resiliência, rede de apoio dos familiares e amigos, acompanhamento médico e perseverança no tratamento. Levando essas dicas a sério, muito em breve você terá um sono reparador e mais qualidade de vida.
Acredite e conte comigo!
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005
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