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Duvido existir alguém que, na infância, não desejou ser um super-herói. É bem provável que a Mulher Maravilha tenha inspirado o desejo por superpoderes em muitas de nós, mulheres 40+.

O problema é que a maioria das mulheres passa a vida acreditando que precisa ser forte, resiliente e incansável. Mas isso cansa! Ser a “mulher guerreira” virou uma espécie de troféu dado àquelas que suportam tudo, que cuidam de todos, que seguem firmes mesmo quando estão exaustas.

Mas, será que vale a pena sustentar essa imagem? Ou será que reconhecer as próprias fragilidades é o verdadeiro ato de coragem? Ser chamada de guerreira pode até soar como um reconhecimento, mas quem se beneficia da nossa força? Hoje sabemos que, por trás desse rótulo se esconde uma pressão silenciosa e persistente: a de que a mulher precisa dar conta de tudo.

Essa ideia nasceu de um histórico de desigualdade, onde mulheres tiveram que lutar por espaço, voz e respeito, assumindo múltiplos papéis dentro e fora de casa. O problema é que, em nome dessa luta, inegavelmente legítima, muitas de nós esquecemos o quanto isso custa à nossa saúde física, mental e emocional.

Menopausa: O preço de ser a última da fila

As “mulheres guerreiras” são frequentemente descritas como incansáveis e multitarefas. São aquelas que colocam as necessidades dos outros à frente das suas, que assumem responsabilidades além da conta, que se culpam pela imperfeição, que têm dificuldade em dizer “não” e que, quase sempre, estão em último plano em suas próprias vidas.

Esse comportamento tem um custo altíssimo. Os riscos da autonegligência são vastos e perigosos. A conta chega junto com o climatério e a menopausa, quando o corpo e a mente passam por grandes transformações hormonais e emocionais.

É depois dos 40 anos que a “mulher guerreira” começa a sucumbir:

• Exaustão física e mental: a sobrecarga constante leva ao esgotamento. Fadiga crônica, insônia, irritabilidade, depressão e até mesmo a síndrome de burnout são consequências comuns.

• Problemas de saúde agravados: ignorar os próprios sintomas e adiar cuidados médicos por “falta de tempo” ou por “não querer incomodar” pode agravar condições de saúde. Dores crônicas, desequilíbrios hormonais não tratados e o agravamento de sintomas da menopausa são exemplos claros.

Perda de identidade e autoestima: quando a vida é definida apenas por servir aos outros, a mulher perde a conexão com seus próprios desejos, hobbies e necessidades, levando a sentimentos de vazio e baixa autoestima.

Isolamento emocional: a dificuldade em pedir ajuda e a imagem de “forte” podem afastar as pessoas, que acabam não percebendo o sofrimento por trás da fachada de invulnerabilidade.

A menopausa é uma oportunidade para ressignificados

É justamente no climatério e na menopausa que a narrativa da mulher guerreira precisa ser questionada e ressignificada. Essa fase da vida é um convite poderoso para uma revolução interna.

O climatério marca a transição da vida reprodutiva para a não reprodutiva e é um período naturalmente desafiador. Oscilações hormonais podem causar sintomas como ondas de calor, insônia, irritabilidade, lapsos de memória, alterações na libido, além de mudanças no corpo e na autoestima.

É comum que as mulheres, sempre acostumadas a “aguentar firme”, enfrentem esse período em silêncio, sem buscar ajuda, acreditando que essa fase faz parte do que se espera delas: suportar.

Mas, que tal se o climatério fosse o ponto de virada, a oportunidade perfeita para reavaliar, repensar e se permitir ser cuidada. Assumir as próprias fragilidades não é sinal de fraqueza. Pelo contrário: é um gesto de autoconhecimento e respeito por si mesma.

Reconhecer que você precisa de apoio, que está cansada e que não consegue dar conta de tudo sozinha é um ato de maturidade emocional – e uma forma de se priorizar. No climatério, isso não é egoísmo, é autocuidado!

Sepulte a heroína e dê boas-vindas à nova mulher

A maturidade que chega com o climatério e a menopausa é uma grande oportunidade para “aposentar” a capa de Mulher Maravilha e viver com mais leveza e verdade.

Mais do que o fim de um ciclo biológico, a menopausa pode ser o início de uma nova forma de estar no mundo: mais consciente, conectada com as próprias vontades e livre das amarras de um modelo feminino perpetuado por anos, mas que não serve mais.

Essa fase da vida convida à introspecção e ao realinhamento de prioridades. É quando muitas mulheres percebem que não precisam provar nada a ninguém. Quem já descobriu isso garante que é profundamente transformador.

E como uma mulher que reconhece sua fragilidade, você não precisa passar sozinha por essa transformação. Permita-se ter uma rede multidisciplinar de apoio: ginecologista, nutricionista, psicólogo, educador físico… Conte com todos os recursos que precisar, porque você merece ser cuidada.

Entre os benefícios de pedir ajuda estão:
• Alívio dos sintomas físicos e emocionais por meio de tratamentos individualizados;
• Planejamento de uma rotina de autocuidado adaptada à sua realidade;
• Prevenção de doenças crônicas, como osteoporose, doenças cardiovasculares e metabólicas;
• Apoio emocional para lidar com as mudanças de identidade e autoestima;
• Orientações sobre sexualidade, bem-estar e relacionamentos nessa nova fase da vida.

Nova narrativa feminina

Ser mulher não significa ser incansável, impecável ou imbatível. Ser mulher é, também, se permitir sentir, pausar, pedir ajuda e colocar-se como prioridade. O mito da mulher guerreira precisa ser revisto porque não contribui em nada com saúde feminina durante o climatério.

A busca por equilíbrio, bem-estar e autoconhecimento precisa ser uma prioridade – e não exceção. Valorize sua trajetória, mas não se cobre perfeição. Seu corpo está mudando e sua forma de se cuidar também pode (e deve) mudar.

Ressignifique esse momento. Dê adeus à heroína e abrace, com gentileza, a mulher real que você é – com todas as suas forças e, principalmente, com todas as suas fragilidades. E não tenha medo: nós podemos trilhar juntas esse novo caminho!

Por: Dra Natacha Machado 

Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005

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