Há fases da vida que chegam sem pedir licença. A menopausa é uma delas. Um dia, você percebe que algo (ou tudo) mudou. O corpo dá sinais de cansaço, o sono não é reparador, a paciência sumiu, o rosto “derreteu”, as emoções passeiam em uma montanha-russa e, de repente, bate um calorão que faz qualquer inverno parecer verão.
No entanto, o que parece assustador pode, na verdade, ser sua melhor oportunidade de transformação. A diminuição dos níveis de estrogênio e progesterona é a principal causa das dezenas de sintomas que surgem quando a menopausa se aproxima.
Em geral, essa “disfunção hormonal” impacta a saúde física e têm um efeito profundo – e, na maioria das vezes, subestimado – na saúde mental e emocional. Mas, por que tanta coisa acontece ao mesmo tempo? A resposta está na neuroquímica.
Influência do estrogênio no organismo da mulher
O estrogênio não é responsável apenas pela função reprodutiva. Ele tem uma relação direta com a produção e o bom funcionamento de neurotransmissores essenciais para o nosso bem-estar. Entre eles estão a serotonina (o “hormônio da felicidade”), a dopamina (relacionada ao prazer e à motivação) e o GABA (ácido gama-aminobutírico), que atua como um calmante natural para o cérebro.
A queda hormonal que começa quando a mulher chega aos 40 anos, mais ou menos, pode desequilibrar essa delicada orquestra cerebral, resultando em sintomas como as ondas de calor, a fadiga, os distúrbios do sono e, claro, as alterações de humor.
A reposição hormonal é a primeira linha de tratamento para muitas dessas questões e oferece resultados comprovados. Só que, sozinha, ela não dá conta do recado. No climatério, outras abordagens são essenciais para ajudar no equilíbrio entre corpo e mente.
E o melhor: tudo está ao nosso alcance, não requer alto investimento financeiro e seus benefícios são comprovados cientificamente.
Grandes aliados contra os sintomas do climatério (remédios para a menopausa)
Se você chegou ao climatério (ou perimenopausa), aqui estão dez “remédios” que podem contribuir com sua saúde e qualidade de vida.
- 45 minutos de treino de força (musculação)
Por que funciona? Além de ser crucial para combater a perda de massa óssea e muscular (osteopenia e sarcopenia), a musculação é um antidepressivo natural.
O esforço intenso gera microlesões musculares que, ao se repararem, fortalecem não apenas os músculos, mas também estimulam a liberação de endorfinas e fatores neurotróficos, como o BDNF (Brain-Derived Neurotrophic Fator, ou, em português, Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro).
O BDNF é como um “adubo” para os neurônios. Ele melhora a comunicação neural, a clareza mental e o humor. Quimicamente, é uma resposta ao estresse agudo e fortalece todo o sistema neurológico.
- 30 minutos de cárdio por dia
Por que funciona? Se a musculação é como uma “marreta”, o cardio é uma “chave de fenda” que ajusta engrenagens. Atividades como caminhada rápida, natação ou dança aumentam a circulação sanguínea para o cérebro e melhoram a saúde cardiovascular.
Esse fluxo aprimorado ajuda a “limpar” a névoa mental e a fadiga. Além disso, o cárdio constante eleva os níveis de serotonina, o que ajuda a regular o humor, controlar a ansiedade e aumentar a sensação de bem-estar.
- 15 minutos de sol por dia
Por que funciona? Pegar sol vai muito além de manter os níveis de vitamina D aquedados (o que é vital para a imunidade e a saúde óssea).
A exposição à luz solar direta, preferencialmente no início da manhã, regula nosso ritmo circadiano, melhorando drasticamente a qualidade do sono.
Mais importante: a luz solar estimula a produção de serotonina durante o dia. À noite, essa mesma serotonina é convertida em melatonina, o hormônio do sono. Esse é um ciclo virtuoso essencial: sol de dia para melhorar o humor e para garantir o sono reparador à noite.
- 7 a 8 horas de sono ininterrupto
Por que funciona? Dormir não é um luxo, é uma necessidade e uma terapia. Durante o sono profundo, o cérebro realiza uma “limpeza” de toxinas, consolida memórias e regula os hormônios do estresse, como o cortisol.
No climatério, os suores noturnos e a ansiedade sabotam esse processo. Priorizar o sono – com um quarto fresco, escuro e sem telas – é fundamental para que o cérebro se recupere. Um cérebro descansado é muito mais resistente às alterações de humor.
- Comida de verdade: descasque mais e desembale menos
Por que funciona? O intestino é nosso segundo cérebro e responde por cerca de 90% da produção de serotonina.
Uma dieta rica em processados, açúcares e gorduras ruins promove inflamação e piora os sintomas de fogacho e as alterações de humor. Ao optar por frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, fornecemos os precursores necessários para a síntese de neurotransmissores.
Já os fitoestrógenos naturais (linhaça, soja) e alimentos ricos em triptofano (banana, aveia) são combustível direto para a produção de serotonina.
- Vida sexual ativa e de qualidade
Por que funciona? A relação sexual orgásmica desencadeia uma cascata química poderosa: libera ocitocina (o “hormônio do amor”, que promove conexão e reduz o estresse), endorfina (alívio da dor e prazer) e dopamina (recompensa e motivação).
Essa combinação é um bálsamo para a mente, combatendo a ansiedade e a depressão. Além disso, melhora a vascularização da região pélvica, o que ameniza o ressecamento vaginal.
- Vida social: cercar-se de boas amizades
Por que funciona? A solidão crônica eleva os níveis de cortisol. Boas risadas e conversas profundas com amigos verdadeiros, por outro lado, estimulam a produção de ocitocina e serotonina.
Esse suporte social age como um amortecedor contra o estresse, melhora o senso de pertencimento e dá mais propósito à vida. Ter amigos ajuda a navegar por essa fase de transformações e reconhecimento.
- Terapia em dia: aprender a dizer “não” sem culpa
Por que funciona? Muitas vezes, o climatério coincide com um período de grandes pressões e sobrecarga emocional, seja no trabalho, na família ou em outras áreas da vida.
A terapia, especialmente a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental), oferece boas ferramentas para gerenciar o estresse, reestruturar pensamentos negativos e impor limites.
Dizer “não” é um ato de autocuidado que reduz drasticamente a carga de cortisol, protegendo a saúde mental e física.
- Fé fortalecida: cuidar da saúde espiritual
Por que funciona? Seja por meio da fé ou da religião, meditação, yoga ou simplesmente pelo contato com a natureza, nutrir a espiritualidade acalma o sistema nervoso.
Práticas como a meditação mindfulness aumentam a massa cinzenta em áreas do cérebro relacionadas à regulação emocional e diminuem a atividade da amígdala (nosso “centro de medo”).
Isso se traduz quimicamente em menores níveis de cortisol e maior sensação de paz interior.
- Tempo sozinha: apreciar a solitude
Por que funciona? Diferente da solidão, a solitude é uma escolha consciente de ficar consigo mesma. É não depender de ninguém para ser feliz. É ter tempo de qualidade para si.
Esse tempo é essencial para processar emoções, reconectar-se com seus desejos e se desvencilhar da constante necessidade de agradar aos outros.
Do ponto de vista neurológico, é um momento de “desligamento” do estímulo externo, permitindo que o sistema nervoso parassimpático (que atua nas funções “descansar” e “digerir”) entre em ação, reduzindo a ansiedade e recarregando as energias.
Menopausa “tem cura”
Sabemos que a menopausa não é uma doença. É um processo fisiológico natural. No entanto, colocar em prática esses 10 mandamentos torna você a protagonista desse processo.
Você não precisa ser refém ou ficar à mercê dos hormônios. Adotar estratégias de autocuidado e autoamor é um ato de empoderamento.
Basta que você utilize esses 10 “remédios” com consistência para reprogramar a bioquímica e transformar sua experiência desde o início do climatério. E então, qual desses “remédios” você ainda não experimentou?
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005


