Durante o climatério, é comum que todas as atenções se voltem para a saúde física, mental e sexual da mulher – e com razão. Os sintomas são muitos e impactam diretamente a qualidade de vida da mulher. No entanto, há um aspecto igualmente essencial que, na maioria das vezes, é negligenciado: a saúde social.
Assim como precisamos cuidar do corpo e da mente, precisamos de conexões sociais. Todos os seres humanos precisam. Só que durante o climatério é comum as mulheres ficarem mais introspectivas, sem energia para socializar e até sem paciência para interagir.
O resultado é óbvio: isolamento social, o que pode agravar sintomas como ansiedade, depressão e baixa autoestima. Mas, afinal, o que é saúde social e por que precisamos falar sobre isso?
Continue a leitura e você vai entender o que esse assunto tem a ver com as mulheres 40+.
Saúde social é qualidade de vida em rede
De forma simples, saúde social é a capacidade de criar, manter e valorizar vínculos com outras pessoas e com a comunidade. É o sentimento de pertencimento, apoio e integração que nos fortalece emocionalmente.
Ter com quem conversar, compartilhar experiências, rir, pedir ajuda e oferecer apoio impacta diretamente a saúde, em qualquer fase da vida. No climatério, no entanto, muitas mulheres relatam a vontade de ficar sozinhas e reservadas. Muitas ficam impacientes e sem ânimo para interações sociais.
Aos poucos, surge uma tendência ao isolamento, seja por falta de energia, mudanças de humor, baixa autoestima ou porque acham que “ninguém entenderá o que elas estão passando”.
Esse distanciamento pode parecer um movimento natural e, em alguns momentos, até ser necessário, mas, quando se torna a única escolha, a reclusão prejudica (e muito) a qualidade de vida e a saúde.
Por que o climatério afasta as mulheres da vida social?
As transformações hormonais que ocorrem no climatério influenciam diretamente o humor, a disposição e a forma como a mulher se enxerga no mundo. Com a queda do estrogênio, por exemplo, é comum o surgimento de sintomas como ansiedade, irritabilidade e tristeza.
Esses fatores emocionais, somados a mudanças físicas como ganho de peso, dor de cabeça, dores articulares, e à sobrecarga de responsabilidades podem gerar insegurança e menos contatos sociais.
Além disso, grande parte das mulheres nessa fase são mães de adolescentes ou jovens adultos, cuidam dos pais idosos, vivem o auge ou a transição de suas carreiras e acumulam múltiplos papéis.
Com tanto em jogo, o tempo e a energia para cuidar de si mesma e dos relacionamentos acabam ficando em segundo plano. Com tantas atividades, não sobra energia para nutrir as amizades.
O problema é que negligenciar a saúde social fragiliza todas as outras dimensões do bem-estar.
As implicações do isolamento e os benefícios da socialização
O isolamento social está associado a uma série de prejuízos à saúde física e mental.
A solidão pode agravar quadros de depressão e ansiedade, afetar o sono, aumentar o risco de doenças cardiovasculares e até comprometer o sistema imunológico.
A longo prazo, a falta de conexões sociais acelera o declínio cognitivo e impacta negativamente a longevidade.
Por outro lado, manter uma vida social ativa e satisfatória traz benefícios comprovados:
• Redução do estresse e melhora do humor;
• Aumento da autoestima e do senso de pertencimento;
• Estímulo à prática de atividades prazerosas e saudáveis;
• Apoio emocional em momentos difíceis;
• Maior adesão a tratamentos e cuidados com a saúde.
Conectar-se com outras pessoas traz conforto, acolhimento, leveza e bem-estar. E o melhor: nunca é tarde para cultivar novos laços.
Como vencer a vontade de se isolar?
Se você está cada vez mais reclusa e isolada, fugindo do convívio social, saiba que isso é mais comum do que parece. Só que não é recomendável, por isso, vamos às dicas.
O primeiro passo é reconhecer o padrão e entender que não se trata de “fraqueza” ou falta de vontade. É o seu corpo e a sua mente pedindo ajuda. E há caminhos possíveis para reencontrar o prazer nas relações.
Veja algumas estratégias para cultivar a saúde social no climatério:
• Retome (ou inicie) hobbies em grupo: aulas de dança, jardinagem, pintura, leitura ou canto são oportunidades de socialização com propósito.
• Mantenha contato com amigas: mesmo que seja uma mensagem por semana ou um café mensal, esses encontros fazem diferença.
• Participe de fóruns de discussão sobre climatério/menopausa: além de acolhimento, você encontra identificação e troca experiências valiosas.
• Faça terapia: profissionais especializados ajudam a trabalhar sentimentos de inadequação, ansiedade e insegurança.
• Seja gentil com seu ritmo: não se force a grandes encontros se não se sentir pronta, mas crie metas leves, como conversar mais com os vizinhos, ir ao mercado, caminhar em um parque movimentado.
• Converse com sua família: filhos e companheiros raramente entendem as mudanças de humor ou retração, mas podem se tornar grandes aliados se forem incluídos no processo de socialização.
É possível fazer novas amizades após os 50? Sim!
A maturidade traz um grande trunfo: a liberdade de escolher com quem queremos conviver. Muitas mulheres redescobrem amizades antigas, fazem novas conexões em ambientes antes ignorados e até se reinventam em comunidades digitais ou grupos de interesses específicos.
Mais importante que o número de amigos é a qualidade das relações. Cultivar vínculos sinceros, com escuta ativa e empatia, é o que realmente faz bem à saúde social.
Conclusão: viver com amigos é viver melhor
O climatério não deve ser solitário. Pelo contrário, é perfeito para a reconstrução de vínculos, trocas afetivas profundas e ampliação da rede de apoio. A saúde social é tão essencial quanto qualquer outro cuidado médico ou terapêutico.
Valorize suas relações! E se estiver com dificuldades para fazer isso, peça ajuda!
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005