O climatério cria um “ambiente perfeito” para que as mulheres se deixem levar pelo “mau caminho”. Se você não estiver vigilante, é muito fácil cair em armadilhas.
Primeiro, porque vivemos em uma sociedade que idolatra a juventude e demoniza o envelhecimento. Em nossa cultura, o valor social da mulher é constantemente associado à idade, beleza, jovialidade e vitalidade. E o climatério chega como um sinal visível e tangível de que esse ideal é ilusório, o que gera apreensão.
Se não bastasse o medo de encarar o espelho, as mulheres experimentam, a partir dos 40 anos, a queda brusca dos hormônios (estrogênio e progesterona). Isso afeta o funcionamento geral do organismo, incluindo o cérebro.
Função dos hormônios na saúde e no emocional
O estrogênio está ligado à produção de serotonina (regulador do humor) e de endorfinas (bem-estar). Sua diminuição leva à irritabilidade, ansiedade, instabilidade emocional e uma sensação de vazio ou insatisfação constante.
Para preencher essa sensação, muitas mulheres chegam a desenvolver compulsões por comida, bebida, compras, redes sociais etc.
E assim como as armadilhas comportamentais, sociais e culturais, que levam as mulheres a detestarem o que veem no espelho, existem também as “pegadinhas” biológicas do climatério, que afetam o funcionamento do organismo.
Por fim, com a proximidade da menopausa, a mulher encara também questões psicológicas que, se não forem bem manejadas, se tornarão um grande problema: o luto múltiplo. Calma, eu explico!
Sintoma Climatério: Vazio existencial
Minhas pacientes costumam se queixar disso: elas se sentem saudosas pela juventude que passou, pelo fim da capacidade reprodutiva, pelo fim da função social de “mãe ativa” (já que, nessa fase, é comum que os filhos saiam de casa para estudar, fazer intercâmbio ou se casar) e, muitas vezes, elas se veem perdidas sem esses papeis.
Esse luto gera uma crise de identidade e as frases que mais ouço no consultório são: “Dra, já não me reconheço mais!” ou “Quem sou eu agora?”
Com tantas dúvidas sobre a nossa jornada 40+, é fácil (bem fácil, acredite) cair nas armadilhas do climatério. Mas se depender de mim, hoje você vai aprender a identificar e a evitar cada uma dessas armadilhas.
Seja esperta e não caia nessas ciladas
Superexposição nas redes sociais em busca de aprovação
No climatério, a autoestima fica abalada por causa das mudanças corporais e da “crise de identidade” de muitas mulheres. Como consequência, elas buscam validação externa para se recompor.
Os “likes” e comentários positivos em posts das redes sociais se tornam uma dose rápida de dopamina (hormônio do prazer/recompensa) que traz, temporariamente, uma sensação de valorização.
No entanto, essa é uma tentativa equivocada de provar para si e para os outros que “ainda está na jogada”, que é desejável e relevante.
Medo da solidão ou do silêncio
O silêncio força o confronto com os pensamentos e sentimentos dolorosos da crise de identidade que chega junto com o climatério. Para fugir disso, muitas mulheres se mantêm excessivamente ocupadas ou rodeadas de pessoas.
Em geral, essa é uma estratégia desesperada para evitar pensamentos intrusivos. No entanto, fugir do “problema” enchendo a agenda de compromissos não faz com que esse medo do silêncio desapareça.
O melhor é ressignificar essa fase, compreender as mudanças e criar estratégias para um futuro mais feliz.
Dificuldade de pedir ajuda
Pedir ajuda parece um sinal de vulnerabilidade e fraqueza. Em geral, as mulheres não querem parecer vulneráveis ou admitir que não estão bem.
Nosso maior temor é que o pedido de ajuda seja interpretado como uma falha ou uma confirmação da “incapacidade” associada ao envelhecimento. Que tal assumirmos nossa fragilidade e abrirmos espaço para uma rede de apoio?
Comparação com os outros e desgaste da autoestima
Você já deve ter ouvido que o gramado do vizinho é sempre mais verde – até descobrir que a grama é artificial. A comparação social é um mecanismo humano natural, mas pode se tornar tóxica no climatério.
A mulher se compara com suas versões mais jovens, com influencers que parecem nunca envelhecer ou com amigas que estão lidando “melhor” com essa fase.
Essa comparação alimenta a narrativa internalizada de que você está “ficando para trás” ou “fracassando” em envelhecer. Redobre o cuidado a respeito desses pensamentos.
Ignorar sinais do corpo para “não admitir” o envelhecimento
Admitir que é hora de mudar hábitos é admitir que o corpo mudou. É encarar de frente a realidade do envelhecimento, algo que a sociedade ensina a esconder e a negar.
No climatério, há em jogo um mecanismo comum de negação: “Se eu agir como antes, serei como antes”. É uma tentativa desesperada de manter o controle sobre uma narrativa que parece fugir do controle.
Não tenha medo de envelhecer, desde que você esteja envelhecendo com bons hábitos, consciência, qualidade de vida e saúde.
Resistência a mudança de hábitos (sono, alimentação, exercício)
Sair da zona de conforto e mudar hábitos é energeticamente custoso e exige disciplina, duas coisas escassas quando se está mental e fisicamente esgotada pela transição hormonal.
E esse é um paradoxo: as atividades que mais ajudariam (exercício, boa alimentação, sono de qualidade) são justamente aquelas nas quais a falta de energia e a instabilidade de humor mais dificultam começar.
A resistência à mudança é, muitas vezes, cansaço puro. Busque ajuda e orientação profissional (psicólogo, nutricionista, educador físico, médicos) para consolidar novos hábitos e cuidar da saúde.
Sobrecarregar-se de atividades para se sentir útil
Essa sabotagem está diretamente ligada à “síndrome do ninho vazio” e à crise de identidade típicas do climatério. Se o papel principal de cuidadora se vai, a mulher acaba se agarrando a uma hiper produtividade como forma de reconstruir seu valor e propósito.
É a famosa crença de que “se eu sou útil, eu existo e tenho valor”. O problema é que, na maioria das vezes, essa super produtividade é motivada pelo medo profundo de se tornar irrelevante.
Você não precisa fazer tudo sozinha para provar seu valor. Lembre-se disso!
Buscar alívio imediato em excessos (comida, bebida, compras)
O sofrimento emocional (ansiedade, vazio, irritação) pode ser avassalador e, para muitas mulheres, a válvula de escape está em excessos que prometem alívio imediato e potente. Surgem aí as compulsões.
Comida e álcool até geram prazer momentâneo, mas afetam quimicamente o cérebro. Compras geram a emoção da novidade e da aquisição. São analgésicos, porém, de curtíssima duração.
Passado o efeito, o que sobra são a culpa e mais problemas (alcoolismo, excesso de peso, endividamento etc.), perpetuando o ciclo. Esteja atenta e pronta para romper isso.
Comportamentos enganosos
Muitas mulheres entram em ciladas sem perceber e, em geral, isso acontece porque elas estão em busca de estratégias de sobrevivência emocional. Faz parte da tentativa de recuperar o controle, preencher um vazio e encontrar validação.
No entanto, nada disso tem efeito duradouro. Para sair desse caminho, é preciso entender que processos difíceis não representam uma fraqueza pessoal.
Confira algumas dicas para evitar armadilhas.
- Conscientização: identifique gatilhos ou padrões comportamentais e tente relacioná-los com os sintomas do climatério.
- Apoio profissional: busque ajuda de especialistas para desenvolver estratégias saudáveis, fazer o tratamento necessário e ressignificar essa fase.
- Apoio médico: converse com seu ginecologista sobre a reposição hormonal ou outras intervenções que atuem na raiz do problema. Reequilibrar os níveis hormonais é necessário para tratar os sintomas do climatério.
- Comunidade: conecte-se com outras mulheres que estão passando pela mesma fase que você. É importante quebrar o isolamento, ter acesso à informação e derrubar o mito de que o climatério é solitário e sem tratamento.
Que tal rever seus comportamentos, reconhecer essas armadilhas e fazer as pazes com o climatério? Eu te acompanho nessa jornada!
Foto de Doğukan Şahin na Unsplash
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005