“Uma TPM que não tem fim, irritação, angústia, apatia e palavras que somem no meio da frase”. Não é raro ouvir coisas assim de mulheres que estão no climatério.
Um dos sintomas mais comuns dessa fase, além da labilidade emocional, é a falta de memória. Esquecer o que foi buscar na cozinha, não lembrar o ano de nascimento do filho, ter dificuldades para dizer algo que, até ontem, estava na ponta da língua…
Sim, o climatério tem influências na saúde mental e emocional, com impactos no humor e na capacidade de concentração, memória e produtividade. Manter o foco parece impossível. A mulher facilmente se distrai e, por isso, deixa tarefas pela metade.
E quando a gente procura pelo celular ou pela chave do carro que estão na nossa própria mão? Sim, isso acontece comigo, com você e com tantas outras mulheres no climatério.
Só que desse ponto até a suspeita de algo mais grave é um pulo. Não raramente atendo no consultório mulheres preocupadas com seu quadro mental. “Será que estou com depressão? Seria esse um indício de Alzheimer em fase inicial? Será que meu TDAH não foi diagnosticado na infância?”
No climatério, muitos sintomas se confundem, mas acalme-se: na maioria das vezes, os únicos responsáveis são os hormônios (ou a falta deles). Antes de recorrer a medicamentos específicos, considere a possibilidade de um declínio na produção hormonal. Se você já tem 40 anos ou mais, procure um especialista em menopausa e seja bem-vinda ao time.
Depressão na menopausa: é uma montanha-russa de emoções e dúvidas
O estrogênio e a progesterona são conhecidos como hormônios neuro protetores e a queda dos seus níveis (o que ocorre durante o climatério) pode afetar o desempenho de algumas regiões do cérebro.
Isso acontece porque alguns pontos do nosso cérebro têm receptores, que são estruturas às quais o estrogênio se conecta para desenvolver suas funções. Então, quando há deficiência desse hormônio, essa ação pode ficar prejudicada.
Veja um exemplo: o hipocampo é uma estrutura que age no processamento da memória. Quando não há estrogênio suficiente para se ligar aos receptores é possível que ocorram falhas ou lapsos de memória. O mesmo acontece no córtex pré-frontal, que atua no foco e na atenção. Sem estrogênio, a capacidade de concentração fica reduzida.
A progesterona, com função ansiolítica, deixa de cumprir esse papel se estiver em queda.
O hipoestrogenismo pode desencadear mais ansiedade e labilidade emocional, tornando frequentes as variações de humor.
É por isso que muita gente confunde o climatério com depressão ou outro problema mental e cognitivo. A diminuição natural dos hormônios femininos pode, sim, impactar na saúde geral das mulheres. Na dúvida, busque orientação médica.
Quando procurar ajuda para tratar sintomas mentais durante a menopausa?
Na psicologia e na psiquiatria, o histórico de vida da paciente ajuda na avaliação, diagnóstico e tratamento. É preciso olhar o todo, o passado e o presente, compreender o contexto, perceber o que mudou em suas relações e interações, avaliar o convívio familiar e entender sua rotina laboral e social.
Mesmo quando os sintomas pareçam banais ou “engraçados”, como esquecer onde estacionou o carro, eles devem ser investigados. De novo, a recomendação é buscar ajuda especializada e fazer o tratamento correto, seja uma questão de saúde mental ou o climatério chegando.
Se o problema for hormonal, a reposição vai se encarregar de amenizar essas queixas. Se não for o caso, o médico saberá orientá-la. Antes de deixar as dúvidas tirarem sua paz ou atrapalharem seu sono, vamos falar um pouco mais sobre essas doenças ou transtornos.
TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma disfunção neurobiológica caracterizada principalmente pela desatenção, inquietude e impulsividade/hiperatividade. Com frequência, o paciente apresenta outras questões emocionais associadas, como ansiedade, depressão e estresse.
Na fase adulta, o TDAH dificulta a organização e planejamento do dia a dia, atrapalha na execução de atividades, desperta o medo de não conseguir realizar as tarefas como esperado, gera insegurança, aflição e inconsistência nas ações.
Alzheimer
A Doença de Alzheimer (DA) é um transtorno neurodegenerativo progressivo que tem como sintoma mais característico a perda da memória recente.
Com o avançar da doença, outros sintomas surgem, como a perda da memória remota (de fatos mais antigos), falhas na linguagem (especialmente em encontrar palavras que expliquem ideias ou sentimentos), dificuldade de se orientar no espaço e no tempo, irritabilidade, agressividade e tendência ao isolamento.
Depressão
A depressão é uma doença psiquiátrica que pode apresentar sintomas psicológicos e físicos. Considerada o “mal do século”, provoca grandes oscilação de humor e de pensamentos, irritabilidade, ansiedade, angústia, interpretação distorcida e negativa da realidade, baixa autoestima e incapacidade de sentir prazer ou satisfação.
Fisicamente, prevalecem a falta de energia, a lentidão nos movimentos, a apatia e a sensação constante de cansaço.
Transtorno de Ansiedade
O transtorno de ansiedade é uma condição mental caracterizada por sentimentos persistentes de preocupação, medo ou nervosismo excessivos em relação a situações cotidianas.
Os sintomas psicológicos envolvem pensamentos negativos, irritabilidade, dificuldade de concentração e até sensação de pânico ou terror. Sintomas físicos também surgem, como tensão muscular, taquicardia, dor no peito, transpiração em excesso, dor de cabeça, tontura e dormência nos braços e pernas.
O diagnóstico deve ser feito por um especialista
De todas as doenças e condições que falamos aqui, ficou evidente o quanto os sintomas se repetem nos vários cenários possíveis, não é mesmo? Por isso, o único meio de obter o diagnóstico correto é consultar um especialista.
Só um médico, depois de exames e avaliações detalhadas, poderá determinar o que você tem. Antes disso, não se medique, tampouco se consulte com o “Dr. Google”. Sua tarefa é simples: confie no médico, espere o diagnóstico e siga o tratamento à risca.
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005