Cuidar da saúde do coração é uma tarefa que requer atenção em qualquer fase da vida. No entanto, mulheres na menopausa precisam redobrar os cuidados. Isso porque as mudanças hormonais, circulatórias e sanguíneas provocadas no organismo feminino depois dos 50 anos elevam os riscos de doenças cardiovasculares.
Segundo dados do Hospital do Coração de São Paulo (HCor), após a menopausa há um aumento de 30% nos casos de infarto e de cirurgias cardíacas. Mais do que um alerta, esses dados reforçam o compromisso que as mulheres precisam assumir para garantir a saúde do coração.
E você, o que tem feito pelo seu coração?
Por que a menopausa aumenta os riscos de doenças cardiovasculares?
A menopausa, caracterizada pelo fim definitivo da menstruação, ocorre quando os ovários param de produzir os hormônios femininos: estrogênio e progesterona. Essa queda hormonal, especialmente do estrogênio, impacta diretamente no bom funcionamento cardiovascular.
Considerado um dos “melhores amigos” do coração, o estrogênio desempenha papéis importantes na saúde cardíaca e vascular. Sua ação vasodilatadora facilita a circulação do sangue e reduz a pressão arterial.
Nas artérias, esse hormônio ajuda a prevenir o acúmulo de placas de gordura, diminuindo o risco de infarto. Contribui também para manter os níveis de colesterol equilibrados, aumentando o colesterol bom (HDL) e diminuindo o ruim (LDL).
Na menopausa, com o fim da produção do estrogênio, as mulheres ficam sem esse importante aliado para proteger o coração, o que deixa o organismo mais vulnerável a problemas cardíacos, infarto e AVC (acidente vascular cerebral).
Quais as doenças cardiovasculares mais comuns nas mulheres após a menopausa?
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte de mulheres no Brasil, superando, inclusive, o câncer. Esse dado reforça o alerta de que o coração feminino precisa de bons cuidados, especialmente na menopausa.
As doenças mais comuns e recorrentes nessa fase são:
• Hipertensão arterial
O aumento da pressão arterial definido como pressão maior ou igual a 140 x 90 mmHg é comum na pós-menopausa e isso aumenta o risco de doenças coronarianas e AVC.
• Doença arterial coronariana
O acúmulo de gordura nos vasos do coração pode reduzir (ou até mesmo bloquear) o fluxo de sangue para o músculo cardíaco, com possibilidade de insuficiência cardíaca e infarto do miocárdio.
• Insuficiência cardíaca
A perda da capacidade de funcionamento do coração, seja para se encher de sangue ou para bombear o sangue com a potência necessária, gera diversos problemas.
• Acidente Vascular Cerebral (AVC)
O rompimento (AVC hemorrágico) ou entupimento (AVC isquêmico) de vasos sanguíneos no cérebro pode levar a perda de funções motoras e até mesmo ao óbito.
Fatores de risco para o coração na menopausa
Estar na menopausa já é um indicativo para que as mulheres, além do acompanhamento com o ginecologista, façam avaliações regulares também com um cardiologista.
A orientação médica é fundamental para entender e controlar os sintomas e prevenir quaisquer problemas cardíacos que possam surgir em função das alterações hormonais.
Mas será que os hormônios são o único fator de risco para o surgimento de doenças cardiovasculares? Você sabe que não!
Sedentarismo, alimentação baseada em comidas ultraprocessadas e gordurosas, obesidade, tabagismo, altos níveis de colesterol ruim, diabetes e pressão arterial descontroladas contribuem muito para aumentar as chances de uma doença cardiovascular.
Mulheres que possuem histórico familiar de doença cardíaca, que fazem uso de anticoncepcional há muito tempo ou que já tiveram doenças autoimunes também precisam redobrar os cuidados com a saúde do coração.
Como reduzir os riscos e cuidar melhor do coração durante a menopausa?
O “combo” atividade física e alimentação saudável segue em primeiro lugar como a melhor “receita” para reduzir os riscos de doenças cardiovasculares, além de garantir, como bônus, mais qualidade de vida.
Atividades que promovam relaxamento e redução do estresse também podem, e devem, ser incorporados nesse pacote. E caso você já tenha se esquecido de tudo o que costumamos conversar por aqui, eu trouxe as principais dicas para cuidar do coração na menopausa:
• Alimentação equilibrada: priorize frutas, legumes, verduras, grãos integrais e fontes de proteínas magras. Evite alimentos processados, ricos em gordura saturada e açúcar.
• Atividade física regular: pratique pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana. Caminhadas, natação, dança e musculação são ótimas opções.
• Controle do peso: mantenha um peso saudável por meio de uma alimentação equilibrada e atividade física regular.
• Não fume: o tabagismo é um dos principais fatores de risco para doenças cardíacas, pois o cigarro predispõe a reações inflamatórias e eventos trombóticos.
• Moderação no consumo de álcool: o consumo excessivo de álcool pode aumentar a pressão arterial e os níveis de triglicerídeos.
• Controle da pressão arterial: monitore regularmente sua pressão arterial e siga as orientações médicas para o tratamento, se necessário.
• Controle do colesterol: mantenha os níveis de colesterol sob controle por meio de uma dieta saudável e, se necessário, medicamentos – sempre sob orientação médica.
• Controle do açúcar no sangue: se tiver diabetes, siga rigorosamente o tratamento e monitore seus níveis de glicose.
• Reduza o estresse: o estresse crônico pode aumentar a pressão arterial e o risco de doenças cardíacas. Pratique técnicas de relaxamento, como yoga ou meditação, e tenha hobbies para ocupar sua mente com algo prazeroso.
• Acompanhamento médico regular: realize check-ups periódicos para monitorar sua saúde cardiovascular e identificar precocemente quaisquer problemas.
Tratamento de reposição hormonal: aliado para prevenir doenças cardiovasculares
A reposição hormonal, além de ser uma opção segura e eficiente para aliviar os sintomas da menopausa, tem efeito preventivo importante em relação aos problemas causados pela diminuição do estrogênio, como acúmulo de gordura visceral, aumento dos níveis de colesterol, resistência insulínica e hipertensão arterial.
Ainda que a reposição hormonal não seja cientificamente comprovada como estratégia para prevenir especificamente os eventos cardiovasculares, como aponta a Diretriz Brasileira sobre a Saúde Cardiovascular no Climatério e na Menopausa 2024, o tratamento com hormônios reduz efeitos que, a longo prazo, tem reflexos na saúde geral da mulher.
Por isso, vale a pena reforçar: a menopausa é uma experiência muito individual e, como tal, deve ser tratada por um médico especialista no assunto, que vai avaliar os sintomas e queixas de cada paciente.
Com ajuda especializada, hábitos de vida saudáveis e acompanhamento regular, a menopausa não é um bicho de sete cabeças, acredite!
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005


