Imagine uma roda de conversa com mulheres como Claudia Raia, Oprah, Mônica Martelli, Maria Ribeiro, Ana Paula Padrão, Ingrid Guimarães, Angélica, Adriane Galisteu… todas falando abertamente sobre um tema que, por muito tempo, ficou escondido sob o tapete: a menopausa.
Figuras públicas, elas decidiram colocar sua imagem e voz a favor da informação e, assim, abrir caminhos para milhões de mulheres que, em silêncio, enfrentam ondas de calor, insônia, ansiedade, confusão mental, ressecamento vaginal, dores nas articulações, entre tantos outros sintomas.
Vê-las falando sobre suas experiências no climatério é ótimo, mas traz à tona uma pergunta: se até essas mulheres estão dizendo que se sentem desamparadas diante da menopausa, o que está faltando?
Elas têm acesso à informação de qualidade, profissionais especializados, exames de ponta e tratamentos de última geração. Ainda assim, relatam que não foram preparadas nem alertadas sobre o que viria e que foram surpreendidas pelas mudanças no corpo e na mente.
Ou seja, mesmo com tantos recursos à disposição, elas se sentiram perdidas. Se com elas foi assim, imagine como é a realidade de tantas outras milhões de brasileiras.
Mulher na menopausa: ainda é vergonhoso dizer a palavra “menopausa”
Menopausa ainda soa como uma palavra proibida. Assim como muita gente mal sussurra “câncer” com medo de “atrair” a doença, muitas mulheres não conseguem dizer em voz alta: “estou na menopausa”. Algumas escondem isso do marido, dos filhos, dos colegas de trabalho. Mas, por quê?
Provavelmente porque foram ensinadas a associar menopausa a envelhecimento, decadência, fim da feminilidade, perda da libido. É quase como o início de uma contagem regressiva para a invisibilidade. A ciência já avançou muito na compreensão do corpo feminino, mas, culturalmente, ainda temos uma longa jornada pela frente para desmistificar o climatério.
Mulher na menopausa: A ciência está atrasada?
A verdade é que a menopausa ainda é um dos temas mais negligenciados nos estudos médicos pelo mundo. A Organização Mundial da Saúde estima que, até 2030, mais de 1 bilhão de mulheres estarão na pós-menopausa. Mesmo assim, os investimentos em pesquisa são tímidos se comparados a outras áreas.
Durante anos, os estudos clínicos excluíram mulheres na perimenopausa e na menopausa. Como resultado, temos lacunas enormes no conhecimento científico sobre o impacto das flutuações hormonais no corpo feminino, especialmente no cérebro, no sistema cardiovascular e na saúde óssea.
Foi só recentemente que a ciência começou a investigar com mais profundidade, por exemplo, o papel dos estrogênios na cognição, no humor e na saúde do coração. Ainda estamos engatinhando na personalização dos tratamentos hormonais, nos estudos com fitoterápicos e nas abordagens integrativas. E a verdade é que não existe um protocolo único. Cada mulher precisa ser tratada com individualidade – o que exige tempo, escuta e atualização constante.
Apesar das lacunas, há avanços importantes. Hoje, sabemos que a reposição hormonal, quando bem indicada, personalizada e acompanhada de perto, é a aliada mais poderosa das mulheres. Além de melhorar sintomas vasomotores, ela melhora o sono, protege os ossos e previne doenças cardíacas em mulheres com início precoce de menopausa.
Outras abordagens também ganham destaque: a modulação hormonal bioidêntica, terapias naturais, mudanças no estilo de vida, suplementação nutricional, exercício físico regular, acompanhamento psicológico… tudo isso faz parte de um cuidado integral.
A ciência caminha, mas precisa ser provocada por mais estudos, mais investimento e mais mulheres sendo ouvidas.
O que ainda falta para a ciência tratar a mulher na menopausa?
Falta pesquisa. Falta educação médica e social. Falta política pública. Falta escuta qualificada. Falta falar mais e mais sobre o assunto nas escolas, nas empresas e nas rodas de conversa.
Dias atrás, Maria Ribeiro comentou em seu Instagram: “A gente precisa de informação antes de os sintomas virem”. Ela conta que nunca teve vergonha de envelhecer, mas ficou chocada com a intensidade do que sentiu na perimenopausa. “A gente não fala disso e devia ser obrigatório”, disse a atriz. Ela está certa. A informação tem poder.
Claudia Raia, em uma entrevista recente, mencionou que ficou “sem chão” quando começou a sentir os efeitos da menopausa. Mônica Martelli classificou como seu maior desafio a “desorganização mental”. Ou seja, a menopausa é física, mas também emocional, psicológica e social. E precisa ser abordada de forma ampla.
O que dizer às mulheres que estão passando dos 40?
A primeira recomendação é: não espere os sintomas apareçam para procurar ajuda e nem espere pelo calorão. Nem sempre ele é a primeira manifestação. Também não aceite o sofrimento como “natural da idade” e não se compare a outras mulheres: cada corpo reage de um jeito. E, agora, o mais importante: não se cale.
Se você percebe que algo mudou – no humor, no corpo, na disposição, no sono, no desejo sexual, no estado de espírito – converse com um ginecologista especializado em climatério. Peça exames, discuta opções e, se sentir que não foi ouvida, procure uma segunda opinião. Sua saúde vale muito.
Informação, compartilhamento e representatividade são as palavras-chaves para acabar de vez com o tabu que é a menopausa. Precisamos continuar abrindo espaços para essas conversas nos consultórios, nas redes sociais, nos grupos de amigas, no trabalho, em casa, com filhos e parceiros.
Quando uma mulher famosa fala sobre menopausa, ela inspira outras milhares. No entanto, cada uma de nós, ao romper o silencia e compartilhar experiências com a vizinha, a colega de trabalho ou as filhas, também vira uma chave contra a desinformação.
A menopausa não é o fim de nada. Pelo contrário: pode ser o início de uma fase mais consciente, madura e autêntica. Que tal rompermos o ciclo da vergonha e começarmos a falar mais sobre climatério? Eu topo!
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005