Você já sentiu o coração disparar de repente, como se tivesse corrido uma maratona, mas, na verdade, nem saiu do lugar? Ou fica tonta toda vez que levanta com pressa da cama ou do sofá?

Muitas mulheres se queixam disso no climatério e a maioria delas tem medo de que a causa seja um problema no coração. A verdade é que essas sensações são muito mais comuns nessa fase da vida do que se imagina.

O problema, como de costume, é a desinformação. Para muitas mulheres – e muitos médicos também -, se não há calorão não é climatério. Só que entre as dezenas de sintomas típicos das oscilações hormonais estão também as palpitações e tonturas.

Montanha-russa hormonal

O climatério começa quando os ovários reduzem drasticamente a produção de estrogênio. Esse hormônio – que tem muito mais funções do que apenas a reprodução – é um protagonista na regulação de diversas funções do organismo, incluindo o sistema cardiovascular e o sistema nervoso autônomo.

Com isso em mente, fica mais fácil entender por que, depois dos 40 anos, as mulheres começam a experimentar sensações como as tonturas e palpitações. Veja:

Palpitações no climatério


O estrogênio tem um efeito modulador sobre o tônus dos vasos sanguíneos e sobre a própria excitabilidade do músculo cardíaco – que é a capacidade das células do coração de responderem a estímulos elétricos, químicos, térmicos ou mecânicos.

Quando a produção de estrogênio fica reduzida, o sistema nervoso simpático (aquele responsável pela resposta de “luta ou fuga”) responde de forma hiperativa. Isso leva a:

• Aumento da frequência cardíaca: o coração bate mais rápido mesmo em repouso.
• Contrações prematuras: sensação de “batedeira” ou de um “choque” no peito, seguido de uma pausa. São os famosos “batimentos ectópicos” (extrassístoles), que, embora assustadores, são na maioria das vezes benignos.
• Associação com os fogachos: a palpitação é uma “companheira” do fogacho, já que o mecanismo que causa o calor súbito também acelera o coração.

Tonturas no climatério


A origem da tontura pode ser multifatorial, incluindo a chegada do climatério. Nesse caso, ela ocorre por:

• Instabilidade vasomotora: as mesmas flutuações hormonais que causam os fogachos podem afetar o controle da pressão arterial. Isso leva a pequenas quedas pressóricas (hipotensão), especialmente quando a mulher se levanta rapidamente (hipotensão ortostática), resultando em tontura.
• Alterações no labirinto: o estrogênio influencia a função do ouvido interno (labirinto), responsável pelo equilíbrio. Sua redução deixa a mulher mais suscetível a labirintites e tonturas do tipo vertiginosa (sensação de que tudo está girando).
• Ansiedade e alterações do sono: a privação de sono causada pelos fogachos noturnos e pela ansiedade, comuns no climatério, são potentes desencadeadores de tontura.

Impacto na qualidade de vida

Na maioria das vezes, as palpitações e tonturas durante o climatério não têm causas funcionais nem estão ligadas a doenças graves. Mesmo assim, elas têm impactos no dia a dia.

Por causa delas, a mulher fica com medo de realizar atividades físicas, desenvolve ansiedade antecipatória (“será que vou ter uma tontura no supermercado?”) e até restringe sua vida social. A constante sensação de “não estar no controle” do próprio corpo é extremamente angustiante.

Quais os riscos para o coração e o cérebro?


Essa é uma questão crucial. Em primeiro lugar, é fundamental diferenciar a palpitação hormonal benigna de uma arritmia cardíaca. A queda do estrogênio é, por si só, um fator de risco para doenças cardiovasculares a longo prazo, pois ele tem efeito protetor sobre os vasos sanguíneos.

Portanto, qualquer sintoma cardíaco deve ser avaliado por um especialista, que poderá afastar quaisquer condições de saúde mais graves. Da mesma forma, a tontura precisa ser investigada para descartar problemas neurológicos, labirintite de origem infecciosa ou outras causas não relacionadas ao climatério.

Em resumo: o sintoma em si (a palpitação ou a tontura) não é perigoso, mas a sua causa precisa ser corretamente diagnosticada. Ignorá-los não é uma opção segura.

O caminho do tratamento: da investigação ao alívio

O manejo das palpitações e tonturas é multifatorial e deve ser conduzido por um especialista. Comece pela consulta detalhada. O médico tem as condições adequadas para investigar a característica dos sintomas e seu contexto.

Em geral, eletrocardiograma, Holter 24 horas (monitoramento cardíaco contínuo) e exames labirínticos são solicitados para excluir patologias. Quando confirmada a causa hormonal, a reposição de estrogênio é o tratamento mais eficaz.

A reposição hormonal atua na causa raiz, estabilizando o sistema vasomotor e reduzindo os fogachos, as palpitações e a instabilidade da pressão arterial. Mas lembre-se: o tratamento é individualizada e deve ser indicado por um especialista, que irá avaliar os benefícios e os riscos para cada paciente.

Outro caminho importante para o tratamento desses sintomas são os ajustes no estilo de vida. Hábitos simples trazem resultados excelentes:

• Controle do estresse: técnicas como yoga, meditação e mindfulness acalmam o sistema nervoso simpático, reduzindo a frequência de palpitações e tonturas de origem ansiosa.
• Hidratação: beber água regularmente mantém o volume sanguíneo e a pressão arterial estáveis.
• Alimentação: evitar quantidades excessivas de cafeína e açúcar, além de cortar o álcool, ajuda no controle das palpitações e tonturas.
• Exercício físico regular: a prática de atividade física fortalece o coração e o sistema cardiovascular, tornando-os mais eficientes e menos suscetíveis a palpitações. Além disso, a mulher tem melhora no equilíbrio e na propriocepção (capacidade que o corpo tem de identificar e manter sua própria posição e movimento no espaço, sem depender da visão).

Não normalize o desconforto

Palpitações e tonturas durante o climatério são sintomas reais, com uma base fisiológica clara. Eles não são “frescura” e nem devem ser normalizados como “coisa da idade”. Esse é um sinal de que o seu corpo está a pedindo ajuda.

Conhecer o próprio corpo e perceber quando algo muda é um ato de cuidado com a saúde, principalmente a saúde cardiovascular. Preste atenção em você e conte ao seu médico sempre que identificar qualquer alteração física ou psíquica.

Por: Dra Natacha Machado 

Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005