Climatério é sinônimo de mudança. Muita coisa muda, de fato! Uma delas você conhece bem: a lista de sintomas físicos e emocionais dessa fase.
Não é novidade que as oscilações na produção dos hormônios femininos causam efeitos no organismo. Os mais conhecidos são as ondas de calor (fogachos), sudorese noturna, fadiga, insônia, irritabilidade, disfunções sexuais e problemas de concentração ou memória.
No entanto, muitos outros efeitos da queda hormonal, em especial do estrogênio, você provavelmente nem suspeita, como é o caso da relação entre a histamina e o hipoestrogenismo.
Conhecida principalmente por sua relação com as reações alérgicas, a histamina também tem suas funções alteradas durante o climatério. Para entender como isso ocorre e o que pode causar no seu organismo, fique comigo até o fim desse post.
O que é e para que serve a histamina?
Antes de falar na relação entre estrogênio e histamina, vamos entender o que é e para que serve essa substância considerada um mensageiro químico do corpo.
Produzida naturalmente pelo organismo, especificamente pelas células que regulam a resposta imunológica, a histamina desempenha um papel crucial em diversas funções corporais, principalmente nas reações inflamatórias e alérgicas.
Ela atua, por exemplo, na resposta imune contra alérgenos (pólen, pelos de animais ou alimentos, por exemplo) e contra outras substâncias estranhas. Assim, ao ser liberada, a histamina inicia uma resposta inflamatória para ligar o sinal de alerta.
Essa reação tem como objetivo proteger o organismo, ainda que, em alguns casos, cause sintomas desagradáveis como coceira, inchaço e vermelhidão.
As diversas funções da histamina
Além da atuar quando entramos em contato com alérgenos, a histamina funciona como um neurotransmissor, emitindo sinais para as células nervosas.
Ela também age na regulação da acidez estomacal, auxiliando na digestão; na contração de alguns músculos dos pulmões, útero e estômago; na dilatação dos vasos sanguíneos e na aceleração do ritmo do coração.
Importância da histamina
A histamina é essencial para defender o organismo contra invasores externos. No entanto, se produzida em excesso ou quando o corpo apresenta uma sensibilidade aumentada a ela, pode causar problemas de saúde.
Não é difícil entender seu mecanismo: quando o organismo detecta uma substância estranha, os mastócitos, células do sistema imune, liberam histamina. Essa substância age como um sinalizador, promovendo a vasodilatação e aumentando a permeabilidade vascular.
Essa resposta “química” permite que as células de defesa migrem para o local da agressão e iniciem o processo inflamatório.
O problema é que, em indivíduos alérgicos, a liberação de histamina é exagerada, levando a uma resposta inflamatória sistêmica, com sintomas como urticária, edema, broncoespasmo e, em casos graves, choque anafilático.
Como o estrogênio afeta os níveis de histamina?
O estrogênio desempenha um papel importante na regulação da histamina. Por possuir propriedades anti-inflamatórias, o estrogênio ajuda a regular a resposta do sistema imune, contribuindo para inibir a liberação de histamina pelos mastócitos.
Ao reduzir a produção de histamina, o hormônio favorece o controle da inflamação. Ou seja, o estrogênio inibe a ativação de células inflamatórias e, automaticamente, a produção de substâncias pró-inflamatórias, como a histamina.
Além disso, o estrogênio contribui para a saúde dos vasos sanguíneos, ajudando a mantê-los relaxados e com boa função.
A histamina, por sua vez, pode causar vasodilatação e aumentar a permeabilidade vascular, o que leva a sintomas como vermelhidão e inchaço. De novo, é o hormônio que ajuda a contrabalancear esse efeito.
Ou seja, quando está em equilíbrio, o estrogênio interage com outros hormônios, como a progesterona, para manter um nível saudável no organismo.
Já no climatério, os níveis hormonais caem naturalmente e comprometem inúmeras funções do corpo da mulher se não forem repostos. Ou seja, ao negligenciar o tratamento de reposição hormonal, as mulheres colocam em risco também a produção e a ação da histamina.
Menopausa e Histamina: O que acontece na menopausa?
Até aqui nós vimos que, durante o climatério – período que antecede a menopausa -, ocorre a redução da produção de estrogênio, o que pode impactar no aumento dos níveis de histamina.
Em resumo, com a redução do efeito inibitório do estrogênio, os mastócitos liberam mais histamina, intensificando a resposta inflamatória do organismo. Além disso, pode haver um aumento da sensibilidade aos efeitos da histamina, com os tecidos tornando-se mais sensíveis à ação da substância.
Quais sintomas estão relacionados à queda no estrogênio e ao aumento da histamina?
A combinação de baixa produção de estrogênio e aumento da histamina pode intensificar diversos sintomas já conhecidos pelas mulheres durante o climatério. Veja:
• Fogachos: a vasodilatação causada pela histamina contribui para os famosos calorões repentinos.
• Secura vaginal: a histamina pode contribuir para a inflamação e o ressecamento da mucosa vaginal.
• Problemas urinários: o aumento da histamina é capaz de intensificar a irritação nas vias urinárias, levando a sintomas como a urgência urinária.
• Alterações de humor: a histamina influencia o humor e contribui para sintomas como ansiedade e depressão.
Como manter estrogênio e histamina nos níveis adequados?
Manter o equilíbrio hormonal e, consequentemente, os níveis de todas as substâncias que os hormônios regulam é um desafio durante o climatério.
A boa notícia é que, com essa questão resolvida, todas as consequências da queda de estrogênio e da progesterona ficam mais amenas e controladas.
Vale lembrar que essa análise e todas as orientações de tratamento precisam ser feitas por um médico. Somente a avaliação minuciosa de um profissional pode indicar quais os caminhos a serem seguidos pela paciente.
É importante ressaltar ainda que cada mulher é única e passa pelo climatério de um jeito diferente. Portanto, o que funcionou para a sua irmã, para a amiga, para a prima ou para a mãe não necessariamente vai funcionar para você.
Não há segredos nem milagres, o que existe é a individualidade de cada paciente, que deve ser levada totalmente em consideração na hora da indicação de um tratamento.
O que fazer para conter os efeitos do climatério?
Confira algumas possibilidades que ajudam a manter adequados os níveis dos hormônios e de outras sustâncias.
Reposição hormonal
• A reposição hormonal ajudar a restaurar os níveis de estrogênio, reduzindo os sintomas do climatério como fogachos, suores noturnos e secura vaginal. Ao atuar na regulação hormonal, a reposição também atua no controle da liberação de histamina.
Ajustes na dieta
• Frutas, legumes, verduras, peixes e oleaginosas são alimentos que contam com propriedades anti-inflamatórias e devem ser incluídos na dieta, pois ajudam a reduzir a inflamação e os sintomas associados à histamina.
• Alimentos ricos em vitamina C também são indicados, pois a vitamina C é um antioxidante que ajuda a reduzir a inflamação e a proteger as células dos danos causados pelos radicais livres.
• Reduzir o consumo de alimentos que contenham altas concentrações de histamina, como queijos curados, embutidos e vinho tinto também é recomendado, assim como o uso de probióticos, que equilibram a flora intestinal e reduzem a inflamação.
Estilo de vida saudável
• A atividade física regular ajuda a reduzir o estresse, melhorar o sono e fortalecer o sistema imunológico. Assim como as técnicas de relaxamento (meditação e yoga, por exemplo), os exercícios reduzem os níveis de cortisol, um hormônio relacionado ao estresse que influencia na produção de histamina.
• Ter atenção à hidratação do corpo, consumindo bastante água, é outra recomendação importante e que deve ser seguida, pois a água auxilia na eliminação de toxinas.
Você é única e precisa ser vista assim
Combinar um estilo de vida saudável e um tratamento adequado é o melhor caminho para proporcionar alívio dos sintomas e ter mais qualidade de vida.
O climatério e a menopausa não são monstros, são fases naturais da vida da mulher. Acredite: com autocuidado e apoio médico você terá saúde para encarar muitos anos pela frente.
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005