A menopausa é um assunto recorrente por aqui, mas você já ouviu falar em duopausa? Esse termo é uma tradução livre das expressões em inglês couplepauseoudualpause e vem ganhando espaço na medicina.
De modo simples, podemos dizer que a expressão duopausa explicaa fase em que homens e mulheres vivenciam, ao mesmo tempo, lado a lado, as transformações hormonais e emocionais da meia-idade.
Mais do que um diagnóstico, a duopausa é uma experiência compartilhada. É quando a menopausa (feminina) e a andropausa (masculina) deixam de ser vistas de forma isolada.
Quando o casal chega junto à meia-idade, as mudanças hormonais simultâneas podem atrapalhar a convivência, o desejo, a energia e ohumor. Pior ainda e o relacionamento não estiver bem sustentado.
Neste artigo, vamos mergulhar nesse conceito, compreender a ciência por trás das mudanças hormonais em mulheres e homens e, sobretudo, descobrir como transformar esse momento em uma oportunidade de reencontro e renovação.
O que é a duopausa?
Primeiro, vamos entender melhor aduopausa. Esse conceito resume a junção das trajetórias da mulher namenopausa e do homem naandropausa, mas com um enfoque específico: o casal como unidade.
Um artigo recente publicado no The Journalof Sexual Medicine mostra que: “morar com um parceiro que está passando pela menopausa ou andropausa pode afetar a saúde geral e sexual de ambos”.
Ou seja: não é apenas o que está acontecendo com cada indivíduo, mas como isso repercute na vida a dois, seja no ritmo, na intimidade, na comunicação.
A duopausa evidencia o que os casais já sabem: quando os parceiros envelhecem, a sintonia vira um grande desafio. No entanto, há, sim, caminhos para retomar o compasso e manter o vínculo aceso.
A tempestade hormonal: dois corpos em transição
Para entender a duopausa é importante olhar separadamente para as mudanças que a mulher e o homem vivenciam, e entendê-las.
Na mulher, o climatério, fase que leva à menopausa, marca o fim gradual da capacidade reprodutiva e traz alterações hormonais significativas. Há uma queda na produção de estrogênio, progesterona e androgênios – hormônios responsáveis, entre outras funções, pela libido, disposição e saúde óssea.
Essas mudanças causam sintomas bem conhecidos: ondas de calor, insônia, irritabilidade, secura vaginal, alterações de peso, ansiedade, lapsos de memória, redução do desejo sexual e outras dezenas mais.
Além do impacto físico, há um componente emocional importante. A percepção de envelhecimento e as transformações no corpo podem afetar a autoestima e a forma como a mulher se vê na relação.
No homem, o processo costuma ser mais gradual e lento, mas igualmente marcante. A partir dos 40 anos, ocorre uma redução progressiva da testosterona, o principal hormônio masculino.
Essa queda leva à diminuição da libido, fadiga, perda de massa muscular, aumento da gordura corporal, distúrbios do sono e, em alguns casos, disfunção erétil.
Mas, nem sempre – e nem tudo – é apenas sobre hormônios.Estresse, sedentarismo, tabagismo, alimentação inadequada e doenças crônicas (como diabetes e hipertensão) contribuem para essa sensação de perda de energia e vitalidade.
Agora, imagine essas duas realidades sob o mesmo teto. Ela, com seu calorão no meio da noite. Ele, com o sono já fragmentado, sendo acordado por ela. Ele, estressado, sem energia e sem paciência para a irritabilidade dela. Ela, emotiva e ansiosa, querendo compreensão, e ele se entender tudo o que está acontecendo ao seu redor.
No combo entra a falta de libido. Se antes o desejo sexual os unia, agora vira motivo para discutir a relação. É ou não é a tempestade perfeita para o mal-entendido?
Para além dos hormônios: o desafio enquanto casal
É vital entender que a duopausa é mais do que uma questão hormonal. Pesquisas e práticas clínicas mostram quea falta de diálogo e de conexão pesa mais no relacionamento do que a queda da testosterona ou do estrogênio.
A meia-idade é um momento de crise existencial para ambos: os filhos estão saindo de casa (o que, em geral, desencadeia a síndrome do ninho vazio), as carreiras exigem redefinição e a percepção da própria finitude se torna mais presente.
O casal é “forçado” a olhar, um para o outro, sem o escudo da juventude. Se o diálogo se perdeu, é nesse vazio que os sintomas hormonais viram a gota d’água para o distanciamento.
Crise ou oportunidade de reencontro: a escolha é do casal
A duopausa não é doença, mas tem cura. E o antídoto é a compreensão, a empatia, o diálogo e o cuidado mútuo. Para além dos desafios dessa fase, existe também a oportunidade de amadurecimento, autoconhecimento e novas formas de viver a intimidade.
A melhor estratégia, sem dúvidas, é focar em abordagens conjuntas e não isoladas.
1. Diálogo sempre…. e com vocabulário novo
Na meia-idade, a melhor coisa a se fazer é sentar-se e conversar. Sem acusações, mas com clareza e sinceridade. Falem sobre as mudanças pelas quais estão passando, sejam elas físicas, emocionais e sexuais.
A falta de comunicação é, segundo estudos, o fator que mais pesa sobre os relacionamentos nessa fase, bem mais do que as alterações hormonais em si.
Pergunte, escute, compartilhe: “Como você está se sentindo?”, “O que mudou para você?”, “Como podemos nos ajudar?”. Essas conversas criam empatia e fortalecem a parceria.
2. Busquem ajuda médica
Procurem ajuda médica em dupla. O ginecologista para ela e o urologista ou endocrinologista para ele. Cuidar-se é um ato de amor-próprio etambém de respeito pelo parceiro.
A reposição hormonal para a mulher, quando bem indicada por um especialista, e a eventual reposição de testosterona para o homem (com acompanhamento rigoroso), podem ser transformadoras, aliviando os sintomas que tanto afetam a convivência. Não negligenciem o cuidado médico.
3. Redefinam a intimidade
A intimidade sexual é importante, mas não é a única forma de conexão. Se o desejo está em baixa, invistam no toque sem pressão: abraços longos, massagens, mãos dadas.
Reconquistem a intimidade emocional por meio de conversas, hobbies compartilhados e dates românticos. Osdates não são exclusividades dos jovens. A qualidade do tempo juntos, fora do quarto, é o que reacende a chama.
4. Foquem na saúde do casal
Adotem hábitos saudáveis como um projeto de equipe. Caminhem juntos, cozinhem refeições nutritivas, estabeleçam uma rotina de sono. Cuidar da saúde física tem influência direta sobre os sintomas da duopausa e fortalece o vínculo.
5. (Re)Descubram propósitos comuns
Os filhos estão crescidos? A carreira está estabilizada? Essa é a hora de olhar para a frente e sonhar a dois. Planos de viagem, fazer um curso juntos, trabalho voluntário…
Envolver-se em novos projetos enche a vida de significado e energia, combatendo a estagnação típica nesta fase.
Um novo capítulo para o amor maduro
A duopausa é, no fundo, uma metáfora bonita sobre o amor que amadurece. É o momento em que o casal se depara com um novo ciclo, uma nova realidade, e precisa reaprender a caminhar lado a lado.
O ritmo pode ser outro, com o desejo pode ser o mesmo. Mais do que uma fase de transição para ambos, a duopausaé a chance de reconexão. É possível redescobrir o prazer, o diálogo e a parceria, acredite! No fim das contas, envelhecer juntos pode ser uma das formas mais profundas de amor.
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005


