Espelho, espelho meu: Não dei crédito para o climatério!

ESPELHO, ESPELHO MEU: não dei crédito para o climatério

Há pouco mais de dois anos fui apresentada a esse universo: o climatério e a menopausa. Em razão do meu trabalho, conheci a ginecologista e especialista no tema, Natacha Machado, que agora, gentilmente, cedeu esse espaço para que eu contasse a minha história.

“Espelho, espelho meu” traz alguns relatos da vida real. A minha vida, mas tenho certeza de que poderia ser a sua.

Produtora de conteúdo, escrevo sobre menopausa, climatério, suas fases, sintomas e tratamentos. Tudo muito claro e lúcido, perfeito para colocar no papel. Eu tinha mais de 40 anos quando comecei essa jornada “teórica” e sim, já apresentava vários sinais físicos e emocionais, mas estava certa de que não era o meu caso.

Na verdade, não dei crédito para o meu climatério. Eu lido com informação e obviamente saberia identificar o momento que os sintomas fossem exigir intervenção. Era o que eu pensava!

Conhecimento eu tinha de sobra. Enquanto eu esperava a minha hora, seguia alertando outras mulheres para que soubessem reconhecer os sintomas e a aproximação da menopausa.

Enquanto eu escrevia sobre o assunto, mês após mês, os meus sintomas iam se intensificando. E eu? Eu tinha tudo na ponta da língua, mas não engolia essa conversa. Não era comigo. Só que agora desceu atravessado.

ESPELHO, ESPELHO MEU: era climatério, mas eu tinha desculpa pra tudo

Nos últimos anos, a minha ansiedade se intensificou. A guerra para controlar os sintomas ficou mais dura. Junto, dias depressivos, acinzentados… o humor oscilante, a concentração escapulindo e a memória, um fiasco.

Culpa de quem? Da vida agitada, do excesso de trabalho, da tripla jornada com afazeres da casa, cuidados com a família, atividades profissionais. Certamente, reflexo da tensão que vivemos desde o início da pandemia.

Claro, a pandemia! Ninguém está bem na pandemia.
Fadiga, cabelo e unha fracos, dor nas articulações. Eu sempre tinha uma desculpa. Um dia o espelho mostrou uma pele que não era a minha. O rosto também não era o mesmo. As brincadeiras da filha adolescente dizendo que eu estava ficando velha, “ultrapassada”, começaram a fazer sentido. Será?

A balança saltou três quilos – para cima, claro. Ainda que a dieta se mantivesse igual, pela primeira vez em dez anos o peso aumentou. Tudo concentrado na região abdominal. O colesterol, sempre perfeito, indicou um viés de alta.

E a libido? Depois de um dia exaustivo e com o mundo do avesso, é normal querer um pijama e uma boa noite de sono, não é? O marido respeitou, mas estranhou. E quem dera se o sono fosse reparador.

Acordar de hora em hora e levantar exausta só podia ser efeito do estresse.

Eu tinha informação de qualidade e sabia a lista de sintomas do climatério. Todos esses e mais alguns. E também sabia que sofrer não é normal nem necessário. Ainda assim, seguia dia após dia.

Insistia em pensar que cada um desses problemas tinha uma causa distinta – qualquer coisa, menos o climatério. Que loucura, eu já passava dos 43 anos, mas imaginava que ainda não era comigo.

Só que de repente, no meio da noite, o cobertor esquentou demais. Acordei suada em pleno inverno. Eu não tinha mais desculpa. A ficha caiu!

ESPELHO, ESPELHO MEU: como assim: envelheci de um dia pro outro?

O tempo não espera e, quando eu fiz 45 anos, foi como se tudo aquilo que eu estava acostumada a escrever sobre climatério e menopausa estivesse bem ali, na minha cara. Parecia repentino, abrupto, mas não era.

O climatério é um processo gradativo. Pode se prolongar por alguns anos. Eu vivi essa fase achando que cada sintoma tinha outro nome e sobrenome. Que o tempo seria meu aliado. Até que um dia acordei e tudo estava diferente: seria possível envelhecer de um dia pro outro?

É a mesma sensação de olhar para um filho crescido e pensar: quando foi que ele se tornou esse adolescente ou jovem? Cadê aquela criança que “ontem” espalhava brinquedos pela casa.

Não, eu não envelheci da noite para o dia. Faz tempo que eu venho experimentando mudanças. Nem todas são ruins. Eu melhorei ao longo dos anos, mas isso não me impediu de viver o climatério.

A maturidade é um presente se for bem aproveitada. A gente fica mais segura, bem resolvida, tem mais certeza daquilo que quer. Pelo menos, comigo foi assim. Eu só não precisava ter fingido que o climatério era problema alheio.

Talvez, se eu tivesse encarado cada sintoma, não teria me assustado naquele dia em que o espelho escancarou a notícia: a menopausa chega para todas nós, tenhamos ignorado isso ou não. Ignorar o climatério não impede que o tempo siga seu curso. Só faz a gente sofrer sem necessidade.

Não tem como evitar o declínio hormonal do nosso organismo, mas a gente pode escolher como vai passar por isso. E pode ser bem mais fácil do que foi pra mim, eu aposto.

ESPELHO, ESPELHO MEU: é menopausa, mas o resultado dos exames não me define

A gente vai se queixando, estranhando as mudanças físicas e emocionais, cansando de esperar que um dia acorde e esteja melhor. Quando o fardo ficou pesado e eu lembrei que tinha muita vida pela frente, decidi fazer os exames para avaliar os níveis hormonais.

As minhas suspeitas se confirmaram. Não era mesmo o climatério. Já é menopausa. Um tapa na cara de quem demorou anos “amargando” todos os sintomas e esperando o dia “certo” para começar um tratamento.

Se a meta era tratar o climatério, perdi a oportunidade. A boa notícia é que nunca é tarde para fazer a coisa certa. É hora de tratar a menopausa. E felizmente os resultados dos exames não me definem.

Meus ovários se aposentaram. Eu não. Aos 45 anos, ainda estou cheia de planos, a carreira em velocidade de cruzeiro, o casamento feliz, filha na porta da universidade, tantas viagens nos planos, um mestrado a ser considerado. Eu estou viva, bem viva.

Ainda que faltem, neste momento, uma boa dose de energia e disposição, eu vejo um futuro com independência, autonomia e muita coisa por fazer. Isso porque eu sei que o tratamento existe e melhora em muito a qualidade de vida nessa fase.

Já vivi a ebulição hormonal da adolescência, a bagunça hormonal da gravidez, a confusão emocional do puerpério, o tal climatério (esse eu tentei negar) e, com tratamento, vou encarar a menopausa cheia de histórias para contar.

Quero começar já a minha terapia de reposição hormonal.

Obs: Este é um relato real que recebi de uma amiga e paciente!

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