Exausta! Insegura! Prestes a ter uma crise de ansiedade. Que atire a primeira pedra a mulher que nunca se sentiu assim e que viu, dentro de um abraço, a calma e o aconchego que precisava.
No climatério, quando as ondas de calor aparecem subitamente, a memória falha, a insônia da noite anterior pesa nas pálpebras e a irritabilidade está à flor da pele, um abraço pode ser terapêutico.
Se você ainda não experimentou, tente. Em segundos, tudo parecer mudar. A respiração desacelera, os ombros relaxam e umsentimento de segurança nos invade.
Essa sensação não é “apenas” emocional, ela é neuroquímica. Se você não sabe o que acontece no cérebro e no corpo quando alguém nos envolve com firmeza nesse gesto de presença e acolhimento, eu vou explicar… E depois deste artigo você vai dar valor ainda maior ao abraço genuíno e sincero.
Climatério: uma tempestade no cérebro
Para entendermos por que o abraço é tão profundamente benéfico no climatério precisamos, antes, compreender o que acontece no cérebro das mulheres após os 40 anos.
A flutuação inicial e o posterior declínio do estrogênio e da progesterona não afetam apenas os ovários, o ciclo menstrual e a possibilidade de uma gestação natural.
Esses dois hormônios femininos têm receptores espalhados por todo o sistema nervoso central, atuando diretamente na regulação do humor, sono, cognição e resposta ao estresse.
Com a queda nos níveis de estrogênio, há também uma diminuição na produção de serotonina, o “hormônio do bem-estar”, e uma maior sensibilidade ao cortisol, o “hormônio do estresse”.
É por isso que sentimentos ansiedade, irritabilidade, “nevoeiro mental” e desequilíbrio emocional. O cérebro, em essência, está mais vulnerável, mas fragilizado pelo desequilíbrio entre serotonina e cortisol.
O cenário “caótico” é perfeito para exercitar a neuroquímica do abraço, um bálsamo para quem vive a montanha-russa hormonal.
Ocitocina: o “hormônio do amor” que acalma a tempestade
Quando somos abraçados com firmeza e intencionalidade por alguém em quem confiamos, uma cadeia de eventos neuroquímicos é acionada. A protagonista é a ocitocina.
Produzida no hipotálamo e liberada pela hipófise, a ocitocina é frequentemente chamada de “hormônio do amor”, “do vínculo” ou “do aconchego”. Ela é a chave para a formação de laços sociais, para o desenvolvimento da confiança e, principalmente, para a redução do estresse.
Ao ser liberada durante um abraço prolongado (com duração de pelo menos 20 segundos), a ocitocina é capaz de gerar impactos profundos no organismo da mulher:
- Redução do cortisol: a liberação da ocitocina inibe a atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que é o nosso principal sistema de resposta ao estresse. O resultado é uma diminuição palpável nos níveis de cortisol. A respiração, que antes era curta e ofegante, desacelera. A tensão muscular começa a ceder.
- Ativação do sistema de recompensa: a ocitocina interage com a dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa. É essa combinação que gera aquela sensação gostosa de conforto e bem-estar durante e após o abraço.
- Aumento da sensação de segurança: ao sinalizar para o cérebro que há proximidade e suporte social, a ocitocina reduz a atividade na amígdala, nossa central de alerta para o perigo e o medo. A mensagem subliminar é: “pode relaxar, você está segura”.
Abraço, uma necessidade biológica no climatério
Muitas vezes, ao chegar no climatério, a mulher se sentir traída pelo próprio corpo e, nessa hora, o abraço representa mais do que um simples gesto de carinho. Ele se torna uma necessidade biológica de sobrevivência emocional.
Os sintomas físicos típicos de quem chega na menopausa (como as ondas de calor e as alterações na libido) e psicológicos podem gerar uma profunda insegurança. O abraço, então, atua como um “porto seguro” físico e químico. Ele é uma comunicação não-verbal poderosa que diz: “você não está sozinha nisso. Eu te aceito e te acolho”.
Esse antídoto também funciona contra a solidão que, por vezes, parece ser a única companhia das mulheres nessa fase de transição. Ao receber um abraço, a mulher calibra seu próprio cérebro com um composto químico que promove calma, conexão e resiliência. É praticamente a mesma sensação de relaxamento que se tem ao dormir com alguém que confiamos muito.
Indo além do abraço: a escuta e a rede de apoio
Se um único abraço já é poderoso, imagine o efeito cumulativo de uma rede de apoio sólida, preparada para ouvir sem julgamentos. A neuroquímica nos ensina que a conexão humana é um remédio e, no climatério, é um elo fundamental do autocuidado.
Escuta ativa
Assim como o abraço físico, a “escuta com presença” – aquela em que nos sentimos verdadeiramente ouvidas e validadas, sem julgamentos – também pode estimular a liberação de ocitocina.
Compartilhar as angústias, os medos e as inseguranças com uma amiga, parceiro, médica ou terapeuta é uma forma de “abraço verbal” que alivia a carga emocional.
Rede fortalecida
Cultivar amizades verdadeiras, fazer parte de grupos de mulheres, investir na qualidade do relacionamento com o parceiro e, claro, manter o acompanhamento profissional são essenciais também.
Esses cuidados complementam as estratégias necessárias para cuidar da saúde e do bem-estar.
Posso usar o abraço como ferramenta de autocuidado?
Sim, é claro! A ciência mostra o que o coração já sabia: o abraço tem poder. Ele não cura o climatério, nem apaga os desafios emocionais dessa fase, mas atua como um bálsamo neuroquímico. Ou seja, é capaz de suavizar a jornada e fortalecer os laços afetivos que sustentam a saúde emocional.
Vale lembrar que o abraço não precisa vir apenas do outro. Gestos de autocuidado, como se envolver com uma manta, praticar respiração profunda, segurar as próprias mãos ou até dar um “autoabraço” são iniciativas que estimulam o sistema nervoso a liberar ocitocina e reduzir a tensão.
Esses pequenos rituais fazem o corpo reconhecer o próprio valor e reconstruir a sensação de segurança interna, um passo fundamental para viver o climatério de forma mais leve e conectada consigo mesma.
Quando abraçamos e somos abraçadas, o cérebro entende que estamos em um ambiente seguro. O resultado é natural: a tensão se dissipa e a vida volta a fluir com mais leveza.
Se você está vivendo as transformações do climatério, coloque esse conselho em prática: abrace mais. Cada gesto de afeto é uma forma de equilíbrio, cura e reconexão com a essência do que somos: seres feitos para sentir, compartilhar e cuidar (de nós, e dos outros).
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005


