Falar sobre obesidade durante a consulta: gordofobia ou cuidado com a saúde?

Responda sinceramente: você se sente incomodada ou ofendida quando o médico, durante a consulta, avalia seu peso e sugere um tratamento contra a obesidade?

E se o diagnóstico fosse outro, como um câncer de mama, endometriose, Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), como você se sentiria ao conversar com o médico a respeito?

Todos os dias, mulheres chegam ao consultório cheias de dúvidas e em busca de tratamento para diferentes doenças, mas muitas preferem evitar a conversa quando o assunto é o excesso de peso.

O fato é que a obesidade, assim como o câncer de mama, por exemplo, acomete cerca de 30% das brasileiras. Então, por que pacientes falam abertamente sobre algumas doenças e evitam a todo custo encarar a obesidade?

Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a incidência de câncer de mama deve ficar em 28,7% no triênio 2020-2022. Já a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) divulgada em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revela que 30,2% das mulheres são obesas.

Duas doenças e duas reações totalmente diferentes na hora de falar a respeito e iniciar um tratamento, certo?

Gordofobia existe?

Antes de continuar falando sobre saúde, vamos deixar uma coisa bem clara. O preconceito deve ser combatido.

A gordofobia existe em todas as esferas da sociedade e, seja aonde for, não pode ser aceita.

A obesidade é uma doença do mundo moderno e nossa conversa aqui é sobre saúde. Não vamos enaltecer padrões estéticos, mas tampouco fazer apologia ao excesso de peso.

Se você já se sentiu ofendida com o tom jocoso ou agressivo de um médico, troque de profissional, mas não deixe de cuidar da sua saúde. Não negligencie o seu futuro e a sua qualidade de vida porque não se ficou confortável com a forma como o profissional abordou o assunto.

O que não dá é para ignorar o fato de que a obesidade é assunto sério.

Entre 2003 e 2019, a proporção de obesos na população brasileira mais que dobrou e ser obeso pode levar a outros problemas de saúde, como hipertensão, diabetes, apneia do sono, problemas ortopédicos, complicações cardiovasculares (infarto, AVC etc) e vários tipos de câncer.

Combater o preconceito e o estigma não é “varrer o problema da obesidade mundial para baixo do tapete”. Vamos conversar sobre um futuro mais saudável sem que isso pareça uma ofensa?

Saiba que, dos R$ 3,4 bilhões gastos pelo SUS em 2018 com o tratamento oncológico, R$ 1,4 bilhão (ou 41,1%) foram em terapêuticas contra cânceres associados ao excesso de peso, principalmente tumores malignos de mama, intestino grosso (colorretal) e endométrio. Leia mais 

Obesidade é uma epidemia global

A obesidade é uma doença crônica e progressiva. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, é considerada uma epidemia global. Mais de 40 milhões de crianças estão acima do peso e mais de um bilhão de adultos, em todo o mundo, também. Destes, 500 milhões são obesos.
No Brasil, o excesso de peso atinge 60% da população com 18 anos ou mais. Os obesos chegam a 41 milhões de pessoas.

Entre os adolescentes, o percentual é de 6,7%. Entre 15 e 17 anos, o sobrepeso chega a 19,4%. O sexo feminino é maioria em todas as faixas etárias.

O problema começa cedo e não podemos ignorar!

Obesidade e menopausa

Se chegar na menopausa com o peso ideal já tem se mostrado difícil, o desafio aumenta nessa fase, quando os ponteiros da balança sobem em função de outros fatores.

Na menopausa, a diminuição dos hormônios estrogênio e progesterona causa a retenção de líquido, desacelera o metabolismo e favorece o ganho de peso com acúmulo de massa de gordura, principalmente na região abdominal.

Se “naturalmente” a menopausa já era a culpada pelo aumento de até 5 quilos, em média, no peso da mulher, imagine para quem não mantém uma alimentação equilibrada e a prática de atividades físicas regulares. Se houver predisposição genética, os efeitos são ainda mais intensos.

Quanto mais o ponteiro da balança sobe, maiores os riscos à saúde

Os riscos para o sistema cardiovascular (que existem em qualquer idade para quem está acima do peso) se acentuam na menopausa se a mulher for obesa (hipertensão, infarto, AVC etc), assim com outras doenças crônicas (diabetes, colesterol alto…). O peso também é fator de risco para o desenvolvimento de alguns tipos de câncer.

No caso dos sintomas clássicos da menopausa, estar excessivamente acima do peso pode interferir de forma negativa. É possível que mulheres obesas sejam mais afetadas pelas ondas de calor, já que a gordura corporal contribui para essa sensação.

Isso sem falar na fadiga, outro sintoma da menopausa que se agrava com o excesso de peso. Sem disposição, as atividades físicas ficam mais restritas. E sem as atividades, o peso não para de aumentar. Romper o círculo vicioso vai exigir ainda mais esforço e determinação.

Oscilações de humor, insônia, depressão. Tudo o que vem na bagagem de quem vive com a obesidade se potencializa com a chegada da menopausa e, portanto, manter o peso ideal, a saúde física e psicológica durante toda a vida, seja qual for sua idade, é uma excelente ideia, não acha?

Obesidade, uma doença como tantas outras

A obesidade é uma doença e leva as pessoas a viverem menos e com menor qualidade de vida. O tratamento inclui alimentação saudável, atividade física e, se necessário, acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, com ginecologista para acompanhar seu climatério ou menopausa, nutricionista, psicólogo, profissional de educação física, endocrinologista… Em alguns casos mais graves, pode-se associar uso de medicamentos ou tratamento cirúrgico.

Como toda doença, deve ser acompanhada por um especialista, mas o que é importante frisar é que ter um corpo saudável é libertador. O que escraviza o ser humano é buscar um corpo padrão que segue a ditadura estética. E por isso te chamei para essa reflexão tão importante.

Seu médico, seu aliado

Esteja aberta a conversar sobre o seu peso, sua qualidade de vida e sua saúde. Ninguém merece ser escravizado por uma doença como a obesidade.

Não espere chegar ao extremo ou passar por uma situação de risco causada pelo excesso de peso para tomar uma atitude em seu benefício. Inspire-se em outras experiências para mudar seus hábitos.

Você e eu queremos a mesma coisa: saúde. Chegar ao limite para começar a rever conceitos não é a melhor maneira de trilhar o futuro. Não se deixe motivar por padrões estéticos nem aceite a gordofobia como algo natural em nossa sociedade, mas cuide da sua saúde.

Eu estou aqui para ajudar nessa jornada. Pense nisso! Plante hoje os melhores hábitos, liberte-se e seja uma nova mulher.

Por: Dra Natacha Machado 

Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005

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