Sexualidade na adolescência: caminho da vida adulta

Marcada por uma fase de descobertas, a adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), vai dos 10 aos 19 anos.

É isso mesmo! Você não leu errado: a adolescência começa aos 10 anos, bem antes do que os pais gostariam. Não adianta negar ou resistir, nossos filhos amadurecem mais rapidamente do que possamos perceber.

Há cerca de 50 anos, o fim da infância se dava por volta dos 14 anos. Só que o mundo evoluiu e as mudanças vêm ocorrendo em padrões físicos e comportamentais ao longo das gerações.

Estudos mostram que a adolescência, hoje, começa quatro anos antes do que no tempo dos nossos pais ou avós. A expectativa é que, a cada década, a entrada nesta fase seja reduzida em três ou quatro meses.

Se você é pai ou mãe, já sabe: não espere para começar a educação sexual de seus filhos. Quanto mais informação nossos adolescentes tiverem, maiores serão as chances de iniciarem uma vida sexual responsável.

Atenção ao desenvolvimento dos filhos

A sexualidade, de acordo com o conceito da Organização Mundial da Saúde, faz parte da personalidade de cada um e é uma necessidade básica do ser humano que não pode ser separada de outros aspectos da vida. Influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações.

Por isso, é fundamental que os pais estejam atentos para perceber quando, de fato, a criança está se tornando um adolescente, com mudanças no desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social.

Orientar os filhos sobre sexualidade é uma tarefa nobre demais para deixar que outras pessoas se encarreguem dela.
Eu sei que alguns pais não se sentem à vontade para abordar o assunto. Se é o seu caso, tudo bem! O importante é estar ciente da importância deste tema no âmbito familiar e buscar ajuda para esclarecer crianças e adolescentes de forma correta, sem tabus e preconceitos.

Realidade alarmante

O início da vida sexual se dá, em média, dois anos depois da menarca. Se a maioria das meninas menstrua pela primeira vez por volta dos 9 anos, não é exagero dizer que o despertar da sexualidade ocorre aos 11 anos.

Para muitos pais, estamos falando de meninas, crianças que até ontem brincavam de boneca, mas as estatísticas revelam um dado que se contrapõe a essa ilusão de muitas famílias: a taxa de gestação na adolescência é alta no Brasil, inclusive a partir dos 10 anos. Anualmente, cerca de 18% dos nascidos no Brasil são filhos de mães adolescentes.

Um dos mais recentes levantamentos divulgados pelo Ministério da Saúde, com dados referentes a 2015, mostra que naquele ano foram 546.529 nascidos vivos de mães com idade entre 10 e 19 anos.

No mundo, por ano, cerca de 16 milhões de adolescentes de 15 a 19 anos têm filhos. Já as mães menores de 15 anos somam 2 milhões.

Minha conversa é com você, adolescente

O início da vida sexual é um marco na vida de adolescentes, mas a sexualidade não começa do dia para a noite. Há uma série de transformações físicas, emocionais, psicológicas e comportamentais.

Estar seguro e confortável com essas mudanças é essencial e o diálogo é o melhor caminho. Informação de qualidade é a base para qualquer desenvolvimento saudável.

  • Você, adolescente, já parou para pensar sobre a sua sexualidade?
  • Confia em alguém para se abrir, expor suas dúvidas e receios?
  • Você se preocupa com a qualidade do seu futuro sexual?
  • Está satisfeita com o que sabe sobre intimidade, sexo, primeira relação, contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis?
  • Com quem você tem conversado sobre esses assuntos? Onde tem se informado?
  • Acha sua mãe repetitiva nos conselhos, chata e antiquada ou tem vergonha de falar com ela a respeito?
  • Sente-se confortável para conversar sobre sexualidade em casa?
  • Tem certeza de que a sua melhor amiga ou aquela garota popular da escola são mesmo as pessoas que mais entendem do assunto?
  • O que você deseja para o seu futuro? E se tivesse que enfrentar uma gravidez não planejada?

Assim como eu, você deve saber que muitas meninas cultuam a virgindade, mas já se expõem a momentos de intimidade, carícias e relações sexuais não vaginais (sexo oral ou anal, por exemplo).

A relação sexual exige responsabilidade, autoconfiança, segurança e informação. Saiba que aquela consulta médica para falar sobre cólica, TPM e ciclo menstrual são ideais para uma conversa esclarecedora sobre outros temas.
Lembre-se disso na próxima vez que for ao consultório. Faça todas as perguntas que quiser. Só não vale voltar para casa com dúvidas.

Como se preparar para a primeira vez

A vida não é um roteiro de filme, mas não custa fazer um check list com escolhas conscientes, não é mesmo?
Se você, adolescente, está pensando em iniciar a vida sexual, deve:

  • Esclarecer todas as dúvidas e ter informação clara sobre o assunto;
  • Estar à vontade, confortável com seus sentimentos e decisões;
  • Definir, em conjunto com o médico ginecologista, o melhor método contraceptivo para seu caso;
  • Lembrar sempre do preservativo para evitar doenças sexualmente transmissíveis;
  • Pensar como vai se sentir depois.

Cumpridas essas fases, é hora de anotar algumas dicas antes de entrar, definitivamente, na vida adulta:

  1. Escolha um dia e um local que vocês tenham tranquilidade, segurança e nada possa atrapalhar esse momento de intimidade.
  2. Se vocês chegaram até aqui é porque já são íntimos. Lembre-se que, na primeira relação sexual, pode ocorrer sangramento. Não é preciso ter vergonha.
  3. Para evitar qualquer desconforto ou dor, quanto mais relaxada e lubrificada você estiver, melhor. Invista um tempo nas carícias preliminares. As queixas de dor na primeira vez também dependem muito do clima entre vocês e do relaxamento.
  4. Discuta antes se os dois concordam com o uso do preservativo. Discordar não deve ser uma opção.
  5. A expectativa para este momento é elevada, mas a primeira vez é quase sempre frustrante. Acredite: as próximas vezes serão melhores.
  6. Pense bem: se a “pegação” foi ficando melhor com o tempo, é natural que um novo elemento – a penetração, no caso – também melhore à medida que o casal vai amadurecendo a sua intimidade.

Pulei etapas! E agora? #partiu vida adulta

Você até sabia o que devia ter feito, mas se antecipou, pulou etapas?

  1. Se até este momento você não tinha conversado com ninguém sobre sexualidade, tenho uma coisa a dizer: não há mais como evitar! Você precisa conversar com alguém (e eu estou aqui para ajudar no que for preciso).
  2. Se você e seu parceiro não estavam preparados para evitar a gravidez, o tempo agora é decisivo. O mercado dispõe de pílulas do dia seguinte que devem ser usadas apenas em casos de emergência em até 24 horas após o ato sexual. Jamais utilize essas pílulas como método anticoncepcional porque o uso frequente aumenta o risco de falhas. Que o susto sirva de alerta para que você busque uma prevenção segura.
  3. Dito isso, bem-vinda à vida adulta! Você agora é uma mulher com todos os prazeres, desejos, frustrações e, é claro, responsabilidades.

A boa notícia é que você não está sozinha. Nenhuma de nós está. Seja qual for a sua dúvida ou o seu caso, conte comigo.

Por: Dra Natacha Machado 

Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005

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Imagem: Woman photo created by freepik – www.freepik.com

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