Por que menstruamos?

Processo natural e orgânico, a menstruação está intimamente ligada ao ciclo reprodutivo da mulher e, como quase tudo o que diz respeito à intimidade feminina, está cercada por mitos, tabus e divergências.

Mas, afinal, se faz parte da natureza da mulher, por que esse sangue divide tantas opiniões? Para algumas é algo perturbador ou sujo e para outras, sagrado.

E você, como lida com seu sangue menstrual?

Sabe por que menstruamos?

Todo mês, o corpo feminino se prepara para uma gestação. Quando a fecundação do óvulo não ocorre, o endométrio (camada interna do útero) descama e se transforma no fluxo menstrual – uma perda espontânea de sangue.

Em geral, a primeira menstruação – ou menarca – ocorre entre os 10 e 12 anos. A última, aquela que anuncia a chegada da menopausa, se dá entre os 45 e 55 anos, em média.

É nesse intervalo de tempo (cerca de quatro décadas) que as mulheres se dividem entre aquelas que vivem em pé de guerra com seu ciclo menstrual (e tem nojo do sangue), as que tratam esse processo mensal com naturalidade e as que cultuam a menstruação.

Vergonha ou nojo?

Se você tem nojo do sangue menstrual, saiba que não está sozinha. Muitas mulheres – muitas mesmo – encaram a menstruação como algo sujo, que deve ser escondido. Muitas sequer pronunciam tal palavra e se referem a esse período como “aqueles dias”.

Quantas meninas se assustam com a menarca porque nem foram “avisadas” pelas mães de que, um dia, sangrariam.

E nem estou falando de cólicas ou do fluxo excessivo, coisas que podem ser de fato incômodas – e que têm tratamento. Estou falando do sangue mesmo.

Há quem odeie o cheiro, a cor do sangue (que pode variar de vermelho vivo ao tom amarronzado), tenha vergonha de falar sobre o assunto e até entrar na farmácia para escolher o absorvente pode ser um problema.

Se você faz parte desse time, pense um pouco o que te levou a ser tão radical com uma secreção natural do corpo humano. Muitas questões culturais podem estar envolvidas, tabus, aspectos da educação sexual e, inclusive, a forma como você lida com a sua intimidade e o seu corpo.

Alguns estudos antropológicos mostram que o sangue menstrual chegou a ser visto como impuro e até “perigoso” na história de diversas sociedades.

Essas reflexões podem ser úteis e talvez você esteja gastando muita energia com algo que pode ser encarado com mais naturalidade, não acha?

Converse a respeito em sua consulta ginecológica.

Tradição ancestral

Um movimento vem crescendo no Brasil e é provável que você já tenha ouvido falar – ou seja uma adepta. É o “Plantar a Lua”. Inspirado em tradições ancestrais, esse rito celebra o sangue menstrual, considerado símbolo de fertilidade.

Nesse processo, algumas mulheres utilizam o sangue como fertilizante para as plantas, aproveitando três nutrientes presentes na menstruação: nitrogênio, potássio e fósforo. Para regar hortas e jardins, elas usam o sangue do coletor menstrual diluído em água ou aproveitam a água na qual o absorvente reutilizável fica de molho.

O que pode parecer novidade por aqui já era uma prática comum entre as indígenas da América do Norte, México e Peru, que de cócoras deixavam o sangue escorrer nas plantas. No Chile e no Brasil, esse ritual vem sendo difundido a partir de estudos da Ginecologia Natural.

A antropóloga e pesquisadora da Unicamp, Daniela Manica, estuda o tema há mais de 20 anos e diz que existe, em nossa cultura, uma visão da menstruação como “sangria inútil”, mas os movimentos de valorização do sangue menstrual e o uso desse substrato corporal têm servido forma de valorização do corpo feminino.

Menstruação “ganha” o Oscar

Vencedor do Oscar em 2019, o documentário “Absorvendo o Tabu” é uma oportunidade de reflexão sobre o tema.

Disponível na Netflix, o curta-metragem trata do estigma da menstruação na Índia e mostra diferentes visões de mulheres – e de um homem – sobre o que seria a “impureza” do sangue menstrual.

Ainda que se passe em uma região rural indiana, o assunto é válido aqui também.

Informe-se sempre!

Seja qual for a sua vibe, faça escolhas pautadas em informação consistente.

Tanto faz se você é a mulher que não curte muito esse sangue todo mês ou é do movimento que cultua a menstruação como símbolo de feminilidade. Tem espaço para todo mundo!

O importante é saber que cada mulher pode vivenciar a sua experiência, desde que ela seja consciente, sem preconceito ou tabus.

O que não pode é ter dúvidas ou perpetuar a desinformação. Quer conversar a respeito desse assunto? Conte comigo. De menstruação, a gente entende, não é mesmo?

Venha me fazer uma visita e vamos conversar mais a respeito.

Por: Dra Natacha Machado 

Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005

Compartilhar:

VEJA TAMBÉM