Todas nós, um dia, seremos impactadas pelos sintomas do climatério. Lidar com as mudanças no organismo, as alterações no humor, a falta de libido, a irritação, a insônia e tantos outros problemas é desafiador.
Uma verdadeira montanha-russa emocional pode surgir e nem sempre conseguimos compreender o que está acontecendo. Por isso, é tão fácil confundir a oscilação de humor, o desânimo e a melancolia com quadros de depressão.
Uma pesquisa realizada entre 2014 e 2018 pela Funcional, uma health tech dedicada à geração de dados e inteligência para saúde, avaliou cerca de 327 mil pessoas e constatou um aumento de 23% no consumo de antidepressivos no Brasil. E pasmem: as mulheres com mais de 40 anos são que mais fazem uso dos psicotrópicos.
É claro que esse dado precisa ser bem analisado. A mulher recorre mais facilmente à ajuda e está mais suscetível a fatores como estresse, saída dos filhos de casa, cuidados com os pais idosos, gestão da carreira, cuidados com a casa e a família.
Tudo isso colabora para o aumento dos quadros de ansiedade, depressão e consumo de medicamentos. Soma-se a tudo isso a chegada do climatério e pronto, a saúde mental se fragiliza.
Como saber se é depressão ou climatério?
Diagnóstico correto agiliza o tratamento. Ainda que as mulheres corram mais risco de desenvolver depressão do que os homens, nem sempre é o caso. E é esse ponto que precisamos reforçar: antes de recorrer a ansiolíticos e antidepressivos, vale lembrar que a oscilação hormonal do climatério causa sintomas semelhantes.
Ou seja, se a alteração no humor estiver relacionada à queda na produção de estrogênio, a reposição hormonal será capaz de substituir os psicotrópicos e aliviar os sintomas. Evidentemente, o diagnóstico precisa ser feito por um especialista e o tratamento deve ser discutido com a paciente.
Saúde mental requer cuidados
Raramente as mulheres associam as alterações de humor, a apatia e a melancolia às questões hormonais. Infelizmente, a maioria dos médicos também não. Isso faz com que muitas pacientes sejam medicadas de forma equivocada.
Com frequência recebo no consultório mulheres em tratamento para a depressão que sequer imaginaram estar no climatério. Só depois de um bom tempo usando antidepressivos é que elas ponderaram sobre a chegada da menopausa.
Isso ocorre por vários motivos, mas, entre os principais, está o fato de ainda acharmos que menopausa é coisa de “velha” e que, entre os 40 e 50 anos, no auge da nossa produtividade e vitalidade, esse assunto não nos diz respeito. Pelo contrário, é bem nessa fase que vivenciamos os primeiros sinais do declínio hormonal.
Outro aspecto é que a maioria das mulheres espera o famoso fogacho para, então, admitir que o climatério chegou. Só que o calorão é apenas um entre dezenas de sintomas dessa fase. Você pode ter vários indícios sem que o fogacho se manifeste. E quando ele finalmente chega, você já terá sofrido anos talvez. Não espere!
Conversa franca com o médico ajuda no diagnóstico
Alguns sintomas comuns no climatério podem ser confundidos com depressão. Na lista estão a perda de memória, desânimo, tristeza, melancolia, oscilação de humor, irritabilidade, falta de concentração, tontura, palpitações, dores de cabeça, insônia e falta de energia para as atividades mais simples do dia.
Antes de recorrer aos antidepressivos, vale a pena avaliar, por meio de exames laboratoriais, os níveis hormonais e as vitaminas. A partir daí, o médico tem mais facilidade no diagnóstico, associando os resultados aos relatos da paciente.
Fatores externos
Por volta dos 40 anos é comum que as mulheres estejam atravessando uma fase delicada na vida, com transformações na carreira, nos relacionamentos, nas rotinas etc. A perda dos pais ou a necessidade de ampará-los, tentativas de recolocação no mercado, filhos saindo de casa para estudar ou casar…
Junto com a flutuação hormonal, tudo isso pode intensificar sintomas emocionais do climatério e, é claro, desencadear crises de ansiedade, pânico ou depressão. Nessa fase, o organismo começa a esgotar sua resiliência e sua capacidade de se adaptar ao estresse.
Além disso, é preciso levar em conta quadros anteriores de depressão ou históricos familiares de demência e outras doenças relacionadas. Então, sempre que os sintomas persistirem ou os tratamentos se mostrarem ineficientes, volte ao médico. O suporte de psicólogos e atividades físicas diárias ajudam no equilíbrio emocional.
Climatério não é doença
Essa fase não passa de um período natural na vida de toda mulher. Mas não se engane: ainda que seja natural, não é normal – nem necessário – sofrer com isso.
Os sintomas do climatério podem ser mais ou menos intensos. Cada mulher é única e entender as nuances que a oscilação hormonal causa no organismo é fundamental para definir o melhor tratamento.
Mas, se não é doença, por que tratar?
Você deve estar se perguntando isso, não é mesmo! O fato é que os sintomas do climatério prejudicam a qualidade de vida, tiram nossa disposição, afetam o emocional e, no futuro, podem desencadear doenças.
Quer ter qualidade de vida? Comece a cuidar de você agora. O corpo “fala”. Preste atenção nos sinais, procure um especialista e peça ajuda!
Por: Dra Natacha Machado
Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005
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