Demência e menopausa: Como a falta de estrogênio afeta o cérebro

Típico no climatério, o hipoestrogenismo é considerado um fator de risco para a demência em mulheres. A possibilidade de desenvolver alterações cognitivas pode ser ainda maior quando a menopausa é confirmada precocemente.

É isso o que mostra um estudo publicado na revista científica JAMA Neurology. Segundo os pesquisadores do Mass General Brigham, nos Estados Unidos, a menopausa precoce (antes dos 40 anos) está associada a um risco 35% maior de desenvolver demência no futuro. Quando a menopausa é confirmada antes dos 45 anos, o risco é 1,3 vezes maior.

Outra pesquisa publicada no início de 2023 na revista científica Alzheimer ‘s Research y Therapy mostra que fazer terapia de reposição hormonal reduz o risco de Alzheimer em mulheres que possuem o gene APOE4 – ligado ao desenvolvimento da doença.

Estima-se que 25% das mulheres tenham esse gene. O estudo foi desenvolvido pela Universidade de East Anglia, da Inglaterra, com mulheres acima de 50 anos, adeptas da reposição hormonal e sem diagnóstico de demência.

Avanços da ciência

Outros ensaios realizados pelo mundo já indicavam um risco maior de demência em mulheres do que em homens, considerando que a falta de estrogênio pode afetar negativamente as funções cognitivas do cérebro e, assim, aumentar a incidência de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer.

A boa notícia é que todas essas descobertas a respeito das funções neurológicas do estrogênio e a relação do Alzheimer com o hipoestrogenismo devem guiar novas pesquisas ao longo dos próximos anos.

Demência e menopausa: Como foi realizado o estudo inglês

As participantes do estudo inglês fizeram avaliações cognitivas e exames de ressonância magnética e de volumes cerebrais.

A partir dos resultados, os pesquisadores identificaram que as mulheres submetidas à terapia de reposição do estrogênio – um tratamento comumente utilizado para controlar os sintomas do climatério – tiveram melhores índices de saúde neurológica.

Os pesquisadores também identificaram, neste grupo, ganhos em memória e na função cognitiva, assim como maiores volumes cerebrais ao longo do tempo.

A pesquisa americana segue a mesma linha e mostra que a manifestação do Alzheimer é mais comum em pacientes que demoraram muito para iniciar a reposição hormonal – ou seja, negligenciaram a janela de oportunidade.

Tempo vale ouro

O tempo é importante quando o assunto é terapia de reposição hormonal. Quanto antes a mulher inicia o tratamento, menores os riscos à saúde. E lembre-se: há opções também para quem não pode fazer uso de hormônios.

Portanto, se você percebeu alterações físicas, psíquicas ou emocionais, não demore a buscar orientação profissional. Menopausa não é “coisa de velha”, é coisa de quem chegou até aqui fazendo o seu melhor e merece um futuro ativo, saudável e feliz.

Para prevenir as doenças que se manifestam quando o climatério não é devidamente tratado, é fundamental que a mulher relate ao médico tudo o que está sentindo. Afinal, nem só de calorão é feito o diagnóstico da menopausa. O climatério chega com dezenas de sintomas e, por mais improváveis que sejam, vale a pena ficar de olho.

Diferença entre Alzheimer e demência

Para o senso comum, demência é loucura. Para a medicina, demência é a perda das habilidades mentais ou das funções cognitivas, como memória, linguagem e raciocínio.

Pessoas com demência podem se tornar confusas, incapazes de lembrar as coisas ou perder habilidades, dificultando as tarefas do dia a dia. Há vários fatores que podem levar à demência, como derrame cerebral, falta de vitamina B12 e, como vimos, hipoestrogenismo.

No Brasil, mais de 1 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência, de acordo com a Alzheimer’s Association.

O Alzheimer é um tipo de demência. Na verdade, o mais comum e conhecido, pois causa problemas na memória, pensamento e comportamento. Nos estágios iniciais, os sintomas podem ser mínimos, mas pioram conforme a doença avança.

A ciência ainda não encontrou fórmulas eficazes para impedir o aparecimento do Alzheimer, mas faz avanços no sentido da prevenção e do controle da doença.

Além da reposição de estrogênio, as mulheres precisam manter a mente ativa, fazer exercícios cognitivos e mentais, ter vida social, adotar bons hábitos alimentares, praticar atividades físicas com regularidade, controlar o estresse e apostar em práticas de relaxamento antes de dormir, para garantir a qualidade do sono.

Esse conjunto de fatores ajuda a prevenir ou a retardar a demência.

Quatro bons hábitos para a saúde mental

1. Mantenha a cabeça em funcionamento. Leia, estude, desenvolva novas habilidades. Assim você estimula os neurônios a criarem conexões entre si. Quanto mais comunicação entre as células nervosas, melhor.

2. O sono é fundamental para manter a cabeça em ordem. Afinal, é nesse período que gravamos tudo o que aprendemos. Antes de se deitar, prepare o ambiente, desligue a televisão e os aparelhos eletrônicos, tome um banho morno, um chá quente e relaxe.

3. Ter uma alimentação equilibrada é muito importante para manter o corpo saudável. Inclua frutas, verduras, cereais e peixes na dieta. Os antioxidantes são importantes, pois combatem os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento das células. Estão presentes principalmente em frutas, vegetais e oleaginosas.

4. A prática regular de atividade física mantém o corpo e a mente saudáveis e serve como proteção contra a demência.

Calma, esquecimento é outra coisa

É comum as mulheres apresentaram lapsos de memória durante o climatério. Algumas fazem uma associação imediata com quadros de demência. Calma, essas “falhas” têm explicação.

Esquecer uma palavra no meio da frase, esquecer o que foi buscar no mercado, esquecer aonde ia, esquecer um compromisso ou o número do próprio RG… Isso é mais comum do que parece, assim como procurar a chave do carro ou o celular quando eles estão nas próprias mãos…

Especialistas chamam esse sintoma de névoa cerebral, caracterizada por esquecimentos, dificuldades para alternar tarefas, para lembrar palavras ou números e para se concentrar. A causa do problema está na oscilação dos níveis hormônios, especialmente o estrogênio. Ainda assim, não significa que você esteja em processo de demência.

Cerca de 60% das mulheres sentem mudanças cognitivas e confusão mental durante o climatério. Com a reposição hormonal, esse sintoma vai se dissipando. Além disso, com o tempo, o cérebro se acostuma a funcionar com menos estrogênio.

Sinais de alerta

A perda de memória não é o único sintoma de Alzheimer. A doença tem estágios e, na fase inicial, pode ser confundida com outros problemas, inclusive o estresse. Por isso, vale a pena prestar atenção a esses indicativos:

• Dificuldade para concluir tarefas que antes eram fáceis.
• Mudanças de humor, agressividade e afastamento de amigos ou familiares.
• Alterações na personalidade.
• Falhas na comunicação (escrita ou falada).
• Confusão a respeito de datas, locais, nomes de pessoas, eventos etc.
• Alterações visuais e dificuldade para entender imagens.
• Dificuldade para tomar decisões que antes eram naturais.
• Falta de foco, distrações e desinteresse por atividades antes prazerosas.

Na dúvida, não sofra em silêncio. Procure a orientação de um especialista, faça checkups e consultas médicas de rotina, confie no seu médico e relate qualquer alteração, sintoma ou dúvida.

Por: Dra Natacha Machado 

Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005

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