Climatério e o “fantasma” do câncer de mama

O climatério chega e, com ele, uma infinidade de dúvidas e incertezas. Um dos maiores temores dessa fase é o câncer de mama associado à reposição hormonal. O tema é recorrente aqui no consultório e está no repertório da maioria das pacientes.

Esse “fantasma” assombra, inclusive, mulheres que ao longo de toda a vida utilizaram métodos hormonais como forma de contracepção e que, nem por isso, desenvolveram câncer de mama ou questionaram o método.

A questão é: por que esse assunto ganha tanta ênfase no climatério? Como contraceptivo, os hormônios já são amplamente aceitos. Como solução para amenizar os efeitos da menopausa, não!

Será que existe, realmente, uma relação da reposição hormonal com o aumento dos casos de câncer de mama? É sobre isso que precisamos conversar!

Climatério: Para que serve a reposição hormonal?

Após os 40 anos, a produção de hormônios femininos – principalmente estrogênio e progesterona – entra em declínio. Essa alteração não interfere apenas na capacidade reprodutiva da mulher, mas traz outros sintomas bastante incômodos.

Para muitas de nós, a qualidade de vida se vai e a saúde fica comprometida em vários aspectos. A reposição hormonal é a principal linha de tratamento para essas alterações do climatério.

Quanto antes a mulher identifica a aproximação da menopausa e começa o tratamento, mais qualidade de vida e saúde terá ao longo do seu processo natural de envelhecimento.

Hormônios X câncer

O envelhecimento natural do nosso organismo é um dos fatores de risco para o câncer. E não apenas para o câncer de mama. A incidência de outros tipos de câncer, como o de intestino, também é alta entre as mulheres.

Isso acontece porque, ao envelhecer, as células podem se multiplicar de forma incorreta e desencadear a doença.

Associado ao envelhecimento celular estão outros fatores genéticos e comportamentais. Hereditariedade, sedentarismo, tabagismo e obesidade elevam consideravelmente o risco de câncer. 

No entanto, quem leva a culpa é a reposição hormonal que, quando feita sob a orientação de um especialista, traz mais benefícios do que riscos.

Você já parou para pensar que o tratamento feito com reposição hormonal pode ajudar na detecção precoce do câncer? Isso mesmo! Quando bem assistida por um especialista, a mulher faz exames de rotina com mais frequência e consegue “flagrar” inúmeras doenças em fase inicial – inclusive o câncer.

Estamos, de fato, preocupadas com a nossa saúde?

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), se continuarmos mantendo o estilo de vida atual – adotado pela maioria da população – o futuro não será muito promissor. Vivemos expostos a fatores que aumentam os riscos de câncer, não cuidamos adequadamente da saúde física e mental, não comemos bem e não nos exercitamos. 

Diante desse cenário, a expectativa da OMS é que os casos de câncer aumentem em 60% nas próximas duas décadas. E isso não tem relação com a reposição hormonal feita com acompanhamento médico. É resultado dos padrões de vida que não priorizam o bem-estar e a saúde.

Quem não se preocupa com o futuro é que está em risco!

Além disso, de 5% a 10% dos cânceres são hereditários. Nesses casos, as células sofrem mutação genética, mas, ainda assim, o percentual é considerado baixo.

Herdar uma condição genética não vai, necessariamente, fazer com que a pessoa desenvolva um tumor – ainda que as chances sejam um pouco mais elevadas do que nos casos em que não há histórico familiar.

Para todas nós, a dica é a mesma: autocuidado e atenção à saúde.

Tipos mais comuns de câncer entre as mulheres

Um levantamento do Instituto Nacional de Câncer (INCA) mostra que o câncer de mama é o de maior incidência entre as brasileiras, perdendo apenas para os tumores de pele não melanoma.

Estima-se que, por ano, cerca de 74 mil mulheres desenvolvam câncer de mama, contra 118 mil brasileiras diagnosticadas com câncer de pele. As taxas mais altas estão na região Sudeste.

Outros cânceres comuns entre as mulheres são cólon e reto (24 mil novos casos/ano), colo do útero (17 mil/ano) e pulmão (15 mil/ano).

Afinal, devo ou não fazer a reposição hormonal?

Lançado pela Sociedade Brasileira do Climatério (Sobrac), o Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal da Menopausa mostra que o risco de câncer de mama associado ao uso de terapia hormonal é considerado baixo (1 caso para cada mil mulheres).

Ainda que esse risco exista, ele é atenuado se a terapia hormonal for feita corretamente e acompanhada por uma especialista.

Se você é bem assistida, visita seu médico regularmente e faz os exames de rotina, suas chances de um futuro saudável estão acima da média.

Nesses casos, os benefícios superam o risco, já que o climatério sem tratamento é capaz de desencadear outras doenças crônicas e graves, como as cardiovasculares (derrame e infarto), diabetes, hipertensão, osteoporose etc.

A gente já sabe que cada mulher é única e, por isso, o tratamento também deve ser individualizado. A reposição hormonal indicada pela amiga, pela irmã ou pela vizinha não serve para você. Só um médico especialista é capaz de avaliar sua saúde e definir a dosagem e a duração corretas do tratamento.

Tive câncer de mama e entrei no climatério: o que faço?

Quem recebe o diagnóstico de câncer de mama ou fez tratamento contra a doença precisa de maior atenção ao chegar no climatério. Quem tem histórico familiar também. 

Como o câncer de mama é uma doença hormônio-dependente, a reposição hormonal convencional é contraindicada. A boa notícia é que existem outras soluções para amenizar os sintomas da pré-menopausa. 

Converse com seu médico e informe-se. Não tenha vergonha de fazer perguntas e, em conjunto com o especialista em menopausa e saúde feminina, escolher o melhor tratamento. 

Reposição hormonal é segura se for bem feita

A queda na produção de estrogênio e progesterona traz sintomas indesejados, como os fogachos (calorões), irritabilidade, alterações no humor, aumento de peso, inchaço, crises de choro, insônia, ansiedade, fadiga, lapsos de memória, dificuldade de concentração, perda da libido, flacidez e ressecamento da pele, enfraquecimento de unhas e cabelos e até depressão.

A lista é imensa e não é igual para todas as mulheres. Por isso, negligenciar essa fase é colocar em risco a saúde no futuro. A reposição hormonal, quando indicada e acompanhada por um especialista, é bastante segura e eficaz. Sozinha, no entanto, ela não faz milagres.

O uso de hormônios precisa estar associado a comportamentos saudáveis e a um estilo de vida adequado. A estratégia é a mesma para quem deseja prevenir o surgimento do câncer: alimentação equilibrada, exercícios físicos diários, manejo do estresse e sono de qualidade. Não fumar e evitar ao máximo as bebidas alcóolicas entram na lista.

Seja você a sua prioridade e não guarde dúvidas sobre o assunto. Vamos desfazer os mitos e afastar o fantasma do medo. O climatério é um processo natural que pode ser encarado com leveza se você tiver informação de qualidade.

 

Por: Dra Natacha Machado 

Ginecologista – CRM/SC 20516 | RQE 11831 | TEGO 0685/2005

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